O RCEP: nasce o maior acordo comercial da história

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O RCEP: nasce o maior acordo comercial da história
O RCEP: nasce o maior acordo comercial da história
Anonim

Com o objetivo de abastecer os Estados Unidos em sua balança comercial, a China promove e assina o maior acordo comercial da história.

A crise que deu origem ao COVID-19 foi um choque de dimensões históricas em todo o mundo. Sem precedentes, a COVID, como se fosse um cisne negro, abalou os alicerces sobre os quais se sustentava a nossa sociedade atual, desmantelando aquele grande estado de bem-estar em que acreditávamos viver. Uma situação que virou o mundo de pernas para o ar, gerando, além de ameaças, oportunidades que, no caso de alguns países, pretendem aproveitar.

A paralisação forçada da economia, com o objetivo de conter a propagação do vírus em outros territórios por ela inexplorados, gerou grandes tensões que, por enquanto e tendo em vista o contexto atual, permaneceram suspensas. Tensões que tinham a ver com o comércio internacional em que China e Estados Unidos, as duas potências econômicas do planeta, debatiam entre a ruptura e a aliança entre as duas economias. Um conflito que, antes da pandemia, se apresentava como um dos grandes desafios econômicos, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Assim, a guerra comercial, que Donald Trump mantinha com o presidente chinês, Xi Jinping, representou uma forte paralisação dos fluxos comerciais em todo o planeta. A imposição de tarifas e sanções, num cenário de grande hostilidade, provocou um cabo de guerra entre as duas economias, fazendo com que as transações que realimentavam a sua relação diminuíssem significativamente. Que, à luz dos dados do comércio global, registrou quedas muito profundas no final do ano passado.

No caso dos Estados Unidos, a resposta, ao manter conversas com a China para chegar a um acordo, foi o apoio em outros tratados que, como o T-MEC, foram muito frutíferos para a economia americana. As relações com o México e o Canadá tiveram um forte impulso, registrando-se dados de comércio com o país asteca nunca vistos antes. Tanto é que, segundo os dados da OMC, o México, além de ter registrado um volume de transações que não se deveu ao pessimismo da pandemia, passou a ser, ao invés da China, o principal parceiro comercial do país Anglo- Saxão.

Situação que “paralisou” a economia chinesa, que, ao contrário dos Estados Unidos, via como seu comércio com o que até então fora seu principal parceiro comercial vinha diminuindo desde o início das tensões. Por isso, de acordo com os dados comerciais do país asiático, a China, no final do ano passado, registrava um superávit comercial muito menos volumoso do que aquele que apresentava quando as relações não estavam suspensas. Durante os últimos quatro meses do ano, este indicador registou decréscimos que revelaram o forte impacto, muito danoso, aliás, do dito conflito para o dragão asiático.

A resposta ainda estava por vir

Como mencionado anteriormente, a resposta dos Estados Unidos, em um cenário em que as negociações estavam praticamente suspensas, foi o apoio de seus dois principais parceiros comerciais. O T-MEC, que rebatizou o acordo firmado em 1994 com os dois países, NAFTA, tornou-se a melhor ferramenta de pressão para um país que precisava retomar as relações com seu principal comprador. E é que, tanto é que, de 1994 ao final de 2018, o volume de comercialização entre México e Estados Unidos passou de 82.000 para 612.000 milhões de dólares, um aumento de 651%, enquanto as trocas entre México e Canadá aumentaram 808 % durante o mesmo período de tempo. Alguns dados que serviram para demonstrar à China o poder da economia dos EUA, bem como a necessidade limitada dos Estados Unidos de depender da China para o comércio.

A isso se somaram as declarações do presidente no início da pandemia. A paralisação forçada da economia, que paralisou a passagem de fronteira de mercadorias, deixou os países isolados, dada a necessidade do maior fornecedor de manufaturas do mundo, o primeiro elo das cadeias globais de valor, começar a reativar seu comércio. Uma situação que, diante da raiva que a carência acarretava, desencadeou toda a raiva do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Um presidente que, diante da situação, pediu a seus sócios apoio para promover um recuo e uma nova configuração das cadeias de valor e do comércio.

Todos estes acontecimentos, ocorridos ao longo destes meses, têm preocupado a economia chinesa, que, calma como sempre, esperava uma resposta amistosa dos Estados Unidos, bem como uma nova configuração nas suas relações; mais próspero e benéfico. No entanto, a suspensão das negociações, bem como os contínuos ataques ao país asiático por conta dos contágios que vinham da China, levaram o presidente chinês, em busca de alternativas que, como o México, compensem essa queda no superávit comercial do país. ., buscar novas ferramentas para promover o comércio, com base na mesma estratégia em que Donald Trump se baseou.

Assim, nas últimas semanas, falou-se em um novo acordo comercial que acabe com a liderança de outros acordos como o T-MEC ou a União Europeia. Um novo acordo que, formado pelas grandes economias asiáticas, impulsionaria o comércio na China, sem a necessidade de se chegar a acordos com um país que, até agora, apenas oferecia animosidade. Um acordo que, enquanto parecia que ia ser, como o novo Silk Road, um projeto que iria acabar no esquecimento, acabou se materializando. Desse modo, surge um novo acordo de livre comércio, que leva o nome de RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership).

O acordo foi assinado por líderes asiáticos no último domingo, em Hanói, e que inclui os dez membros da Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN), além de China, Japão, Coréia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Um acordo que, como dissemos, pretende ser muito maior do que os existentes.

Uma resposta devastadora

Como podemos ver, o silêncio não significa que a China não esteja preparando a nova ofensiva. Assim como na Europa e no Reino Unido, a espera acabou gerando tanta tensão que, atualmente, qualquer acordo parece inatingível. Pois bem, levando em consideração que os Estados Unidos já haviam se movimentado com outros parceiros alternativos, e que a China ainda não compensou a queda do superávit que o país asiático teve, a China teve que buscar opções para resolver a situação e, aliás, recupere-se do duro golpe que essa ruptura supôs.

Assim, a resposta é o RCEP. Um acordo que, considerando suas dimensões, apresenta dados devastadores, ao contrário de outros acordos. Bem, à luz dos dados, estamos falando de um acordo que integra 15 países, com uma população agregada de 2,2 bilhões de pessoas. Um acordo que, combinando os diferentes níveis de produto interno bruto (PIB), representa um agregado de 22,14 trilhões de dólares. Um acordo que, também, monopolizaria 28% do comércio mundial, podendo absorver uma cota maior nos próximos anos. Ao mesmo tempo, da mesma forma, suporia um acordo em que 30% do PIB mundial estariam integrados.

Como podemos ver, nem a União Europeia, nem o T-MEC, podem combater estes números. Em relação aos números apresentados, falamos que o T-MEC apresenta um fluxo comercial de 1,2 trilhão de dólares entre os países participantes, portanto, está muito longe do que o dito tratado promete. Por outro lado, a União Européia, apesar de representar cerca de 15% do comércio mundial, além de um PIB combinado que responde por 20% do PIB mundial, também apresenta um volume de mercadorias, além de dados como os citados, que são Eles se afastam do acordo alcançado pelas potências asiáticas.

Em suma, estamos falando de um acordo de larga escala que, de certa forma, “vira o jogo” naquela guerra comercial que as duas potências do planeta estavam mantendo. Cansada de esperar, a China pegou em armas contra os Estados Unidos, do ponto de vista comercial. Uma iniciativa que, da mesma forma que visa abastecer os Estados Unidos naquela relação comercial que ambos os países tiveram, visa impulsionar a economia asiática até que ela se torne a economia dominante no comércio mundial; situação que dará muito o que falar nos próximos meses.