O mundo está caminhando para a desglobalização?

Índice:

O mundo está caminhando para a desglobalização?
O mundo está caminhando para a desglobalização?
Anonim

A pandemia que está varrendo o planeta colocou em questão a eficiência da globalização econômica. O bloqueio das cadeias de abastecimento levou à chegada de novas mensagens protecionistas que alimentam o ódio por uma economia globalizada.

Com a chegada de uma pandemia sem precedentes, se há um debate que se repetiu várias vezes é o da eficácia da globalização. Em um cenário em que a economia enfrenta o maior bloqueio da história, com um claro choque de oferta que ocasionou o colapso forçado da atividade econômica, muitos têm sido os líderes políticos no mundo que questionam a eficácia, bem como a eficiência de uma economia globalizada.

Em um mundo global, as cadeias de valor nas empresas são totalmente distribuídas estrategicamente em todo o mundo. Grandes países manufatureiros, como a China, cresceram muito nos últimos anos devido a essa situação. É esta a situação que estamos a falar de um país que se tornou nos últimos anos o maior produtor e exportador de produtos manufaturados do mundo, que tem sido anedoticamente referido como o produtor mundial. Nesse sentido, estamos falando de um país que se há 16 anos contribuía com 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, hoje já responde por 17% do PIB mundial, superando todo o PIB da Zona do Euro (apesar deste último sendo uma comparação apenas anedótica, pois se extrairmos o per capita, o crescimento que desejamos apresentar não é tão bem refletido).

No mais puro estilo fisiocrático, muitos líderes políticos tornaram pública a tensão que percebem no comércio global, entre os países que atuam neste mercado cada vez mais globalizado. No entanto, o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), que continua tentando controlar a situação e governar arbitrariamente em favor do membro certo, foi severamente questionado em várias ocasiões. Principalmente por líderes como Donald Trump, que em sua insistência em derrubar a China como líder comercial, pondo fim a uma balança comercial historicamente deficitária, tem denunciado repetidamente o país asiático. Algumas reclamações que, por não reconhecerem os pedidos do presidente norte-americano, acabaram em ameaças de ruptura, além de uma guerra comercial que, até a chegada do Coronavírus, se mostrava uma das maiores ameaças à economia.

Mas essa não é a parte mais preocupante da questão. Ou seja, desde que Donald Trump lançou uma mensagem que tentava impulsionar a indústria nacional e acabar com essa “falsa globalização”, muitos outros governos aderiram à causa. Em todo o planeta, em cada um dos países que compõem o nosso mundo, foram iniciadas mensagens que, através de partidos que se dizem patriotas, procuram incutir uma mensagem na sociedade, que tenta desmantelar aquela globalização que se vai construindo sobre a anos, buscando aquele tão esperado recuo nas cadeias de valor, bem como o repatriamento de muitas empresas que, por meio de realocação estratégica, têm centros de produção localizados no exterior.

Um fenômeno que, acentuado pelo Coronavirus, muitos especialistas definiram como a desglobalização da economia.

China e Estados Unidos: o perdedor e o vencedor

Com a proclamação de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, muitos cidadãos do planeta testemunharam mensagens como “America First” ou “Make America Great Again”. Mensagens de campanha de um presidente que chegou ao poder com grande ambição. Uma ambição repleta de metas e objetivos entre os quais um se destacava: acabar com o déficit comercial dos Estados Unidos. Nesse sentido, muitas pessoas seriam atingidas por outra série de conquistas e objetivos, mas quando falamos em globalização, aquele que ocupa a plataforma nesse sentido é este; razão pela qual muitos economistas focam a atenção nesta afirmação.

Mas, infelizmente para o presidente, a balança comercial dos Estados Unidos não só não se corrigiu com o tempo e as políticas aplicadas no país. Estamos falando do fato de que, observada hoje, a balança comercial dos Estados Unidos apresenta um déficit muito mais agravado do que aquele que apresentava naquela época, quando Donald Trump se autoproclamou o novo presidente do país. Nesse sentido, uma mensagem que, sendo muito importante para o presidente americano, não deu frutos na prática.

Assim, após uma série de conflitos que poderíamos até discutir sobre a legalidade das práticas, assim como o protecionismo asiático, o presidente Trump lançou uma guerra contra a China para acabar com uma situação que, para ele, estava acabando com parte da economia americana. Práticas como desvalorização monetária - nunca confirmada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) -, políticas tarifárias chinesas, entre outros instrumentos que favoreciam a competitividade das exportações chinesas em um cenário de legitimidade duvidosa, levaram o presidente americano a iniciar com os asiáticos gigante, o que será conhecido como a maior guerra comercial de todos os tempos. Uma guerra pelo comércio global que prejudicou drasticamente as previsões de crescimento do comércio.

Paralelamente, em um cenário em que China e Estados Unidos estavam começando a acertar suas arestas, o Coronavirus prevaleceu entre o que muitos chamaram ou chamaram de "trégua comercial". Nesse sentido, paralisou todas as relações e negociações que China e Estados Unidos mantiveram para acabar com uma guerra comercial que, como já dissemos no Economy-Wiki.com, não teve vencedores, mas apenas perdedores. Um impasse que, se não tivesse ocorrido, teria sido substituído por aquela trégua comercial que, como dizemos, colocou o toque final numa relação tensa que parecia não ter corrido bem.

Porém, o Coronavirus, quanto à campanha de Trump, foi imposto entre China e Estados Unidos, uma vez que o bloqueio que levou ao fechamento comercial, deixou os dois países em um cenário de bloqueio e impossibilidade de dar continuidade ao fluxo de mercadorias que, no diariamente, eram produzidos entre os dois países. Mas, além disso, devemos nos colocar neste cenário e focar nossa atenção, pois é justamente neste momento um ponto de inflexão em que Donald Trump encontra a oportunidade de voltar à acusação contra a China, tentando colocar, novamente, a mensagem que já começou a campanha e parecia ter abandonado após a possível trégua comercial que estava se formando nos últimos meses.

Un mensaje que, como decíamos al principio, ponía en relevancia una situación en la que los Estados Unidos eran incapaces de contar con material sanitario, ya que la industria, o el mayor peso de ella, como hemos sido testigos durante la pandemia, se encuentra na China. Neste sentido, e dada a oportunidade de passar esta mensagem, Donald Trump aproveitou para colocar a sua mensagem de que, dispensando-se de uma gestão que apresentava as suas maiores vulnerabilidades, não é possível continuar numa situação em que os países dependem de uma único país para contar com mercadorias. Situação que, para ele, foi causada pela intensa globalização, que gerou o bloqueio das cadeias produtivas.

Uma quebra que, se essa realocação da produção não tivesse ocorrido, segundo Donald Trump, não teria ocorrido. Motivo pelo qual pede a seus empresários, assim como a todos os cidadãos norte-americanos, que retirem qualquer indústria que esteja operando no exterior por motivos de competitividade. Uma aposta que, se observarmos a mensagem emitida por muitos membros da sociedade civil, assim como por políticos eleitos, parece ter penetrado na sociedade.

Uma aposta arriscada (e cara)

O comércio, com uma contribuição para o produto interno bruto (PIB) mundial de 60%, posiciona-se como um dos principais motores do crescimento econômico. Na verdade, podemos dizer que mais da metade da economia mundial é totalmente dependente do comércio, portanto, negligenciar sua importância, tecnicamente, é um erro. Na verdade, se levarmos em conta sua contribuição indireta, os 60% acima mencionados nada mais seriam do que um aperitivo para o valor que teríamos deixado depois de fazer os cálculos e mostrar o cálculo absoluto.

Nesse sentido, estamos diante de uma situação muito complicada. O Coronavirus, em um cenário em que o comércio já era delicado devido à guerra comercial, se interpôs no crescimento do comércio global, paralisando toda atividade comercial que, até então, se desenvolvia. Situação que tem dado muito que falar, principalmente em um cenário em que a escassez de recursos, de certa forma, foi precedida pela impossibilidade de compra de suprimentos médicos de países asiáticos, bem como pela possibilidade de exportação do material comprado em. uma cena de bloqueios de fronteira.

Situação que muitos especialistas têm descrito como de desglobalização, pois se somarmos o temor que o Coronavírus tem gerado na sociedade global, estamos diante de uma situação em que a interconexão entre países se tornou uma prática que, apesar de muito incutida em nossa sociedade atual parece errado na mente do “cidadão pós COVID”. E é que, a globalização tem sido severamente questionada pela impossibilidade de dar uma explicação razoável sobre a realocação das cadeias produtivas para o exterior e a impossibilidade de ter suprimentos médicos em muitos países que, ao contrário da China, não apresentavam indústria dessa tipologia.

Lendo muitas análises geopolíticas, a China deu um tapa na mesa, impondo-se aos Estados Unidos na liderança de uma resposta global que acalme a ordem mundial. Por sua vez, os Estados Unidos desempenharam um papel secundário no gerenciamento desta crise, com uma pandemia que grassava na cidade de Nova York e que nem mesmo o próprio Donald Trump conseguiu deter. Situação que, em um tom geopolítico, levantava a hipótese, bem como a possibilidade, de que os Estados Unidos perderiam essa importância de destaque no organograma global, dando lugar à China como nova candidata à liderança da economia global.

Uma hipótese que os Estados Unidos viam como uma clara ameaça, deixando clara a mensagem de que o vírus era um produto "made in China", à espera que a sociedade o replicasse como ele esperava. Situação que não só tem deteriorado as relações multilaterais mantidas pelos países, mas tem causado, como dissemos no início, muitas mensagens protecionistas que, antes, eram vistas como uma mensagem errada e errada, hoje são vistas como uma opção viável, em um cenário em que uma pandemia, dada a grande possibilidade de não ocorrer essa retirada das cadeias produtivas, deixaria o resto do mundo não produtor com falta de abastecimento.

Por fim, devemos sublinhar a importância de não cair em dogmas errados que podem levar a situações mais complexas para a economia global. Em outras palavras, acabar com um fenômeno que, contribuindo com 60% para o PIB mundial (como mostram os dados do Banco Mundial), se tornou uma falsa ameaça é uma aposta, mais do que arriscada e até muito cara e inacessível para muitas economias. Estamos falando de economias totalmente dependentes do comércio e que seriam drasticamente afetadas por uma solução protecionista.

Concordamos que devemos mudar muitas coisas, devemos melhorar, até reformar coisas que, a priori, não foram consideradas. Mas, além disso, devemos continuar apostando no crescimento e na integração econômica. Pois bem, não se trata mais de uma contribuição econômica, mas de uma contribuição que, contando com os intangíveis, tem marcado o progresso da sociedade, bem como o desenvolvimento humano.