Chove muito na economia chinesa. Somado à desaceleração econômica e à guerra comercial com os Estados Unidos, está o severo impacto econômico que a epidemia do temido coronavírus pode causar.
Os canais de televisão transmitem imagens de Wuhan, o ponto de origem do coronavírus. As ruas perderam o alvoroço, as calçadas não estão mais lotadas, o tumulto da multidão não se ouve mais, nem o estrépito de calçados de grandes multidões na calçada, os neons das lojas não piscam ou irradiam uma luz impressionante. Uma certa atmosfera de medo reina em Wuhan, com a população abrigada em suas casas e a atividade das fábricas interrompida. Cidadãos chineses preocupados, quando se atrevem a sair, andam vestidos com máscaras.
Queda no consumo
Com lojas e restaurantes fechados e a indústria paralisada, Wuhan e a China perdem mais do que sua agitação normal. E é que, sem consumo, sem comércio e sem atividade nas áreas manufatureiras, a economia chinesa pára. Lembremos que o consumo privado é um componente muito importante do produto interno bruto da economia de qualquer país. É inegável que a epidemia de coronavírus terá um impacto negativo significativo no PIB chinês.
Não apenas o consumo privado e a atividade industrial são afetados pela expansão do coronavírus. Um dos setores econômicos mais afetados será o transporte. Tentando evitar que a epidemia continue a se espalhar, o deslocamento é evitado. Assim, as viagens de ônibus e trem são suspensas, enquanto os aeroportos permanecem praticamente desertos.
Para piorar a situação, a paralisação do setor de transportes não poderia ter vindo em pior hora. O surto da epidemia de coronavírus ocorreu em meio às comemorações do Ano Novo Chinês. Precisamente esta celebração implica um aumento notável do consumo, que será prejudicado pelas medidas de quarentena e pelo medo dos chineses de irem às ruas.
Os economistas vinham alertando sobre o declínio no crescimento econômico chinês, que ficou em 6,1% após a guerra comercial (o menor crescimento em 30 anos). Todos estão observando com preocupação qual será o impacto negativo do coronavírus no PIB da China.
Já existem precedentes para outras epidemias e seus efeitos na economia chinesa. Estamos falando sobre SARS, um vírus (mais mortal, mas menos contagioso) que eclodiu em 2003 em Guangzhou. As consequências foram uma queda de 1% nos números do PIB chinês no segundo trimestre de 2003.
Setores mais afetados
Agora, as circunstâncias econômicas atuais são muito diferentes das de 2003. A China de hoje é um país muito mais dependente do consumo. A desaceleração será inevitável e os setores que mais sofrerão serão, sem dúvida, a hotelaria e as atividades relacionadas a bens duráveis e de luxo.
Embora a economia subterrânea não seja incluída no cálculo do PIB, não devemos esquecer aqueles que têm sua principal fonte de renda por meio de atividades não declaradas. Aqueles que se mudaram das cidades para as áreas rurais para comemorar o Ano Novo Chinês, ao retornar, podem perder seus rendimentos com as medidas de quarentena.
Quais seriam as consequências no PIB chinês?
Não há dúvida de que a epidemia de coronavírus afetará os dados de crescimento econômico deste trimestre. No entanto, deve-se notar que o efeito sobre a economia chinesa dependerá da duração e do grau de expansão da epidemia. Portanto, se for uma epidemia rapidamente interrompida, pode significar uma queda de alguns décimos, da qual a China poderia se recuperar em relativamente breve. Ao contrário, se a epidemia se prolongar no tempo, os prejuízos sofridos pelo PIB chinês podem ser muito maiores.
Voltando à experiência da SARS de 2003, a China optou pela expansão fiscal por meio de cortes de impostos para impulsionar os setores econômicos mais afetados pela epidemia. No entanto, atualmente, fazer essa jogada seria muito mais complicado, já que a China tem um déficit fiscal significativo.
O problema da queda do PIB chinês é que também tem consequências na economia mundial. Em uma economia globalizada, os acontecimentos de um país têm eco em todo o mundo, principalmente no caso de uma grande potência como a China, com cerca de 1,4 bilhão de habitantes. Assim, se a economia da China cair 1%, a economia mundial também pode ser severamente afetada.