Remessas: um motor econômico para a América Latina

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Remessas: um motor econômico para a América Latina
Remessas: um motor econômico para a América Latina
Anonim

As remessas respondem por grande parte da receita recebida pelas famílias em muitos países da região. A queda prevista pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), diante do cenário atual, pode prejudicar gravemente muitas economias da América Latina, América Central e Caribe.

Nas últimas semanas, testemunhamos como a tempestade viral, que começou a sacudir, e muito fortemente, o conjunto das economias que compõem o planeta, já começa a se dissipar. Os claros sinais de esgotamento da pandemia neste momento, para regressar à normalidade anterior à crise que hoje se abate, têm conduzido à reactivação - ainda que gradativa - de uma economia que, dada a situação e os seus efeitos, resultado das medidas de contenção do vírus, foi forçada a interromper toda atividade econômica possível e ativa. Desta forma, tentando que o alto índice de contágio não causasse o alastramento da pandemia a mais lugares do planeta; como vinha acontecendo até agora.

A incapacidade de conter o vírus por meio de infraestrutura médica, bem como de recursos de saúde, levou os governos a dobrar a aposta, fechando completamente as economias. Tudo isto, apesar de os custos do referido encerramento terem levado a economia a uma contração considerável. Nesse sentido, medida que, por ora, parece ter tido sucesso em termos de contenção do vírus; Bem, à luz dos dados, a tempestade de saúde que, a priori, parecia intratável, já está começando a diminuir. Porém, da mesma forma que o vírus vem perdendo força, como prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI) e como prevê todos os dirigentes, a economia - diante do bloqueio econômico e do forte choque de oferta que estava tomando. lugar - começou a mostrar sua pior cara. Pois bem, a deterioração que essa economia estava sofrendo foi mais do que sensível, na medida em que a situação do vírus obrigou os dirigentes a tomar medidas extremas. Desta forma, resultando em cenários onde as contrações esperadas colocam muitas das principais economias mundiais em cenários de recessão econômica.

Porém, junto com a paralisação da economia, outro bloqueio estabelecido pelos diferentes governos foi o bloqueio migratório, estabelecido e controlado nas fronteiras. Esse bloqueio, como o econômico, tentou impedir a chegada de passageiros possivelmente infectados aos diferentes países, espalhando um vírus desconhecido até o seu tratamento. Consequentemente, como parte das medidas de distanciamento social, o tráfico de pessoas no mundo também foi severamente paralisado. E, como dissemos, a impossibilidade de conter uma crise inédita como a atual, em um cenário em que a situação se tornava cada vez mais complexa nos países mais afetados pelos efeitos do vírus, obrigou ao fechamento forçado das fronteiras, evitando a passagem de turistas que poderia ser uma possível fonte de contágio; sacrificando, aliás, mais um setor da economia.

Situação que a priori pode parecer algo apenas anedótico, mas que, sem dúvida, tem efeitos diretos e indiretos na economia, muito além dos possíveis efeitos causados ​​no setor do turismo; com destaque para o setor aéreo. E é que, como destacamos, com a paralisação do fluxo de mercadorias, bem como de pessoas, grandes motores da economia mundial, entre os quais se destaca o comércio, bem como outra série de elementos de grande importância para determinadas economias. , foram vistos esgotados durante esta pandemia. Desta forma, e como veremos a seguir, geram situações desagradáveis ​​para muitas economias que, pela sua natureza, são altamente dependentes de determinadas contribuições.

Uma desconexão global

Como dizíamos, a situação ocorrida nos diversos países afetados pelo vírus obrigou os governos a ter extrema cautela. O que a priori começou como uma dicotomia paradoxalmente difícil de resolver, com a evolução dos efeitos da pandemia, a difícil solução começou a ser vista cada vez mais claramente. Diante do elevado índice de contágio mencionado, em um cenário em que, além disso, a mortalidade aumentava em muitas economias desenvolvidas e com excelentes sistemas de saúde, as ações dos governos foram optando rapidamente pelo salvamento de vidas e pela contenção do vírus. , deixando a economia, assim como sua recuperação, para outro momento em que a radiografia do referido vírus mostre um enfraquecimento do vírus.

Deste modo, como mostram os indicadores macroeconómicos, a situação conduziu a uma maior contenção do vírus, mas com a cobrança do consequente custo de oportunidade da adoção de determinadas medidas, pondo em risco e deixando de lado os efeitos económicos derivados da referida crise. Custos econômicos derivados de uma paralisação econômica que bloqueou, entre outras coisas, todas as cadeias globais de valor, causando, junto com a paralisia das mercadorias, a escassez de bens intermediários em economias ocidentais como as europeias; dada a incapacidade da China de enviar suas mercadorias para o exterior.

Porém, como dissemos na seção anterior, junto com o comércio, outro elemento de grande importância que foi dificultado e bloqueado nas fronteiras, com seus detentores, foram as remessas que chegam todos os anos dos Estados Unidos para a América Latina. Remessas que, dada a situação, não chegavam aos países da região, causando ainda mais deterioração em uma economia que, como mostra a estrutura econômica desses países, é altamente dependente desse recebimento crônico de capitais oriundos do envio de remessas por parentes no exterior. Envio de remessas que, em países da América Latina ou da América Central como a Guatemala, já representam cerca de 11% do produto interno bruto (PIB).

O montante de capitais que chegaram do exterior no ano passado à América Latina foi de 88 bilhões de dólares, registrando um crescimento próximo a 10%, após os mais de 70 bilhões que chegaram à região em 2017. Este montante reflete a importância das remessas que representam uma grande fonte de receita para economias que, como veremos, dependem fortemente desse recebimento de remessas. Remessas que, ademais, não param de aumentar ano a ano, enquanto a economia dos Estados Unidos apresentava forte crescimento com períodos de expansão que, como o registrado até o ano passado, colocaram a economia norte-americana à frente do mundo.

Nesse sentido, o Coronavirus afetou seriamente essa remessa de capital. Pois bem, disse o envio de remessas, de acordo com as projeções do Banco Mundial para este ano, podem sofrer quedas de mais de 20% em todo o mundo, dada a situação que o planeta vive no momento, bem como as quedas nas receitas projetadas níveis. Por outro lado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com projeção de queda de 30%, é ainda mais pessimista que o Banco Mundial, apresentando queda significativamente superior à projetada pelo organismo multilateral. Em suma, a América Latina, como mostram os registros de março e abril, já mostra quedas equivalentes a 18% do total das remessas enviadas, o que coloca a queda no nível previsto pelo Banco Mundial, aproximando cada vez mais esse patamar das projeções. estabelecidas pelo BID.

Este cenário, tendo em conta a diminuição dos níveis de rendimentos dos próprios cidadãos no país, bem como a grande dependência das famílias e da economia, complica a situação futura do país. E o fato é que, os efeitos negativos que derivam do Coronavirus, além da situação que ocorre agora, com as remessas, podem deteriorar gravemente as economias da região.

Economias muito dependentes

A paralisação da chegada das remessas se deve principalmente ao bloqueio econômico que o Coronavirus tem implicado no planeta, deixando quedas nos níveis de renda que impedem o envio de capitais. Da mesma forma que, por outro lado, afeta a paralisia que supõe o bloqueio no embarque de mercadorias e o tráfico migratório para este envio de remessas, após o entupimento das fronteiras como medida de contenção do vírus. Isso obrigou a região a dispensar uma quantia próxima a 16 bilhões de dólares que, em decorrência do Coronavírus, deixou de chegar aos diferentes países que a compõem nos últimos meses.

Mas para ter uma ideia mais realista e objetiva do que significam essas perdas nas diferentes economias que compõem a região, devemos estar cientes do quanto essas remessas representam nas diferentes economias receptoras. Nesse sentido, em países como o Haiti, por exemplo, as remessas em 2019 representaram cerca de 37% do PIB. Em Honduras, por exemplo, esse valor subiu para 22%. Por outro lado, no caso de El Salvador, falamos de uma contribuição equivalente a 21% do PIB. Enquanto a Nicarágua e a Guatemala, por exemplo, têm uma contribuição de remessas que já equivale a 13% de seus respectivos níveis de PIB. Nesse sentido, perdas que, como vimos, comprometem as diferentes economias mencionadas acima.

Os países mais afetados por esse declínio nas remessas, portanto, são os que recebem mais remessas; no entanto, como podemos ver, o impacto não é simétrico em todos os países. Nesse sentido, embora os países que mais recebem remessas sejam México, República Dominicana, Honduras, Guatemala, El Salvador e Colômbia, nem todos apresentam a mesma dependência. De fato, no caso do México, as remessas que chegam ao país asteca representam 35% do total das remessas que chegam à região. No entanto, esse montante, em relação ao PIB do México, representa cerca de 3% do PIB asteca. E é a isso que estamos nos referindo, porque enquanto países como El Salvador têm um quinto de sua economia dependente desse recebimento de capitais, outros países como a Colômbia, por exemplo, quase não subordinam 2% de seu PIB a esse fluxo de capitais.

Portanto, não podemos falar de um impacto simétrico, uma vez que há países que, à luz dos dados, são claramente mais afetados que outros por esta diminuição das remessas. Na Nicarágua, por exemplo, as remessas representam cerca de 50% da renda familiar total do país, portanto, tal declínio poderia ter um efeito devastador nas famílias nicaragüenses. El Salvador, por sua vez, tem cerca de um milhão de famílias que apresentam grande dependência dessas remessas; que, com a queda prevista, segundo o BID, pode deixar mais de 200 mil famílias no país sem receber capital.

Em suma, estamos falando de uma situação que, como vemos, reflete uma clara deterioração de muitas das economias que compõem a região latino-americana. A grande dependência das remessas leva-os a necessitar desse recebimento constante de capitais, muito diminuída em cenários como o atual. Portanto, a situação que se apresenta mostra-se como uma dificuldade a mais para as diferentes regiões que se localizam no continente, pois, somados aos efeitos causados ​​pelo vírus nos diferentes países, deve-se somar o efeito contágio que é produzido pela queda nas receitas provenientes das remessas. Rendimentos que, se não forem devolvidos no curto prazo, podem acentuar os problemas de desigualdade e pobreza na região.