A Nova Rota da Seda: China e seu plano para liderar o comércio mundial

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Anonim

A Nova Rota da Seda é apresentada como uma oportunidade de desenvolvimento e comércio em todo o mundo. No entanto, a falta de transparência por parte da China pode abafar os desejos de seu governo.

Ao longo dessas primeiras etapas do ano, e imersa em um cenário de excepcional incerteza, a China enfocou os olhos dos principais líderes do planeta ao comunicar ao mundo suas perspectivas de crescimento para os próximos anos, bem como os números que deixou no País asiático no passado 2020. E é que, enquanto as economias do planeta lutavam entre uma contração semelhante ou maior que a ocorrida na última crise de 2008, a China, por sua vez, anunciava que o país, tendo estado epicentro mundial da pandemia, pretendia fechar o ano com crescimento de até 2,3%.

Em relação a esta situação, temos que dizer que este crescimento da economia chinesa é bastante surpreendente. Precisamente pelo facto de estarmos perante o país onde se desencadeou o fenómeno que hoje está a fazer com que as principais economias do planeta apresentem contracções nunca antes vistas nas suas séries históricas.

No entanto, o melhor desempenho da economia chinesa, devido às características que lhe permitiram ultrapassar melhor os efeitos desta pandemia, colocou o dragão asiático na vanguarda mundial em termos de crescimento e recuperação económica.

Entre esses fenômenos que tornaram a economia asiática mais resiliente em tempos de crise, destacam-se o comércio internacional e o forte compromisso da China em ampliar sua participação nesse lucrativo fenômeno. Prova disso é o protagonismo das exportações no produto interno bruto (PIB), que passou de 4,31% do PIB em 1960 para 19% nos últimos anos, segundo dados do Banco Mundial. Uma evolução semelhante à vivida pelas importações, o que nos permite concluir que o grau de abertura da economia chinesa ao mundo tem vindo a crescer, gerando no caminho acordos muito promissores como o New Silk Road (BRI, por sua sigla em Inglês), ou o RCEP recente.

Mais acordos comerciais e mais ambiciosos

Apesar de as relações da China com o mundo não terem sido tão boas nos últimos anos, e mesmo ter gerado tensões como as que teve com os Estados Unidos, a China não deixou de alimentar um projeto que, como mostra o crescimento do gigante asiático Nos últimos anos, contribuiu amplamente para o crescimento da economia asiática. Um projeto baseado nessa maior participação no comércio internacional, e que começa a se materializar por meio de tratados como o firmado com outros países asiáticos sob o nome de “RCEP”.

Embora estejamos falando de um tratado regional, estamos diante de um acordo que integra 15 países, com uma população agregada de 2.200 milhões de pessoas. Um acordo que, combinando os diferentes níveis de produto interno bruto (PIB), representa um agregado de 22,14 trilhões de dólares. Em suma, e vale a pena a redundância, um acordo que monopolizaria 28% do comércio mundial, podendo absorver uma participação maior nos próximos anos. Ao mesmo tempo, da mesma forma, falamos de um PIB combinado que representaria 30% do PIB mundial. Como podemos ver, estamos falando do maior acordo comercial da história.

Porém, além desse acordo, a China não quis se descuidar do resto do mundo, por isso lançou outra série de acordos que podem ampliar ainda mais essa participação. Nesse sentido, já em 2014, Xi Jinping propôs a criação de uma nova rota de comércio que conectasse a China com o restante das potências econômicas do planeta; incluindo também economias emergentes como América Latina e África, onde a China está aumentando sua participação.

Ele chamou essa nova rota de "Nova Rota da Seda". Um acordo pelo qual seriam estabelecidas duas rotas combinadas, uma para infraestrutura terrestre e outra marítima, com o objetivo de melhorar as conexões chinesas tanto no continente asiático quanto no exterior, dando à China maior influência econômica e política em todo o mundo.

De acordo com o Banco Mundial, essa Nova Rota da Seda pode impulsionar o comércio mundial em até 9,7%, além de reduzir o tempo de transporte de mercadorias em até 12%. Por isso, desde seu início, o volume total de comércio entre os países envolvidos na Nova Rota da Seda atingiu 6 bilhões de dólares, segundo dados oficiais do governo chinês. Desde a sua criação, 130 países participaram de alguma forma neste acordo, o que representa cerca de 42% do PIB global, bem como 78% da população mundial. Em suma, outro grande negócio que aproxima a China cada vez mais de sua meta desejada.

A nova rota da seda: um acordo para o desenvolvimento ou para controlar o mundo?

Desde a sua criação, em 2014, tantos dirigentes elogiaram a criação desta nova rota, como há quem a tenha criticado. O Banco Mundial, quando apropriado, considera que este acordo poderia ajudar a tirar 7,2 milhões de pessoas da pobreza extrema em todo o mundo, bem como 32 milhões da pobreza moderada; muito semelhantes às declarações feitas pela ONU ou pelo FMI. Por sua vez, a guerra comercial com os Estados Unidos exemplifica a opinião de muitos outros dirigentes que consideram essa rota um mecanismo para ampliar o domínio da China no planeta, ao mesmo tempo em que consolida seu papel de economia dominante nos mercados internacionais.

Seja como for, a verdade é que o novo acordo, que tenta replicar a histórica Rota da Seda que tanto beneficiou países no passado, é um projeto firme que espera ver a luz do dia nos próximos anos. O investimento da China em infraestruturas à volta do planeta está a aumentar, tendo já atribuído um elevado montante de capital a muitas economias vizinhas que pretende reactivar e promover com esta via. E é que, tendo em conta os projectos que esta rota contempla, tendo também em conta as infra-estruturas (marítimas e terrestres), estamos a falar de um investimento que se prevê ultrapassar os 500 mil milhões de dólares. Capital utilizado na construção de estradas, portos, ferrovias, plataformas logísticas e outras infraestruturas em mais de 60 países.

Porém, apesar das intenções que o presidente chinês afirma ser de conectar os cinco continentes por meio de melhorias nas telecomunicações, nos transportes, bem como em todo tipo de infraestrutura, a verdade é que esses investimentos feitos pela economia chinesa em outras economias começam a preocupar muitos. líderes do planeta. Pois bem, depois do que aconteceu com o Sri Lanka, ou dos sinais que se observam em outras economias semelhantes, a situação não é tão agradável como a que a China afirma apresentar.

Nesse sentido, estamos falando de uma dívida que acaba comprometendo os países interessados ​​com a China, gerando uma dependência perigosa que pode comprometer a imparcialidade, a justiça e a equidade nas decisões multilaterais.

Pois bem, da mesma forma que falamos de uma melhoria notável nas infraestruturas terrestres e marítimas, os grandes volumes de despesas exigidos por esta rota comercial exigem o endividamento de muitas economias. Uma dívida que acaba nas mãos da China, gerando essa relação de dependência que muitos países temem. Por isso, são muitos os dirigentes que, apesar de elogiarem a proposta, confiaram à China reformas que garantam transparência nos acordos. O que aconteceu em outras economias, onde o controle da China sobre a dívida externa conseguiu comprometer os próprios interesses do planeta em favor da China, gera uma espécie de ceticismo em alguns líderes econômicos que não enxergam bem as boas intenções de Xi Jinping.

No entanto, e dado o que aconteceu no planeta com a pandemia, continuar a falar em cooperação e multilateralismo, bem como em comércio internacional, é um bom sinal. As tensões surgiram no planeta, e essa globalização, que tantos benefícios econômicos aos países, começou a ser ameaçada. Porém, se não controlarem todos os detalhes que as lideranças exigem para ingressar no projeto, bem como revisarem os investimentos que são necessários para a operacionalização desse acordo, que hoje se apresenta como uma oportunidade, amanhã poderá semear o início de um batalha campal pelo domínio do comércio global.