O sistema bancário é digitalizado por inovação ou por necessidade?

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O sistema bancário é digitalizado por inovação ou por necessidade?
O sistema bancário é digitalizado por inovação ou por necessidade?
Anonim

A ameaça das fintechs, assim como o cenário que a economia atravessa, está obrigando o setor bancário a adaptar seu modelo de negócios. Um modelo de negócio que, se não for convertido, já está fadado a desaparecer.

Em um mundo onde a digitalização dominou quase todo o planeta, empresas ao redor do mundo estão passando por mudanças abruptas em seus próprios modelos de negócios, adaptando-os a este novo mundo digital que alguns chamam de quarta revolução industrial. Muitos setores da economia enfrentam atualmente o difícil desafio de adaptar seus modelos de negócios ao novo formato. Porém, o processo exige uma grande adaptação, um grande esforço, assim como um grande investimento.

Um dos setores que mais aposta nas novas tecnologias e no ambiente digital é o mundo da banca. Como os dados indicam, o surgimento de empresas fintech no mercado fez com que os bancos tradicionais adaptassem seu modelo de negócios, reajustando suas estruturas para se adaptarem a um novo ambiente onde quase todas as entidades financeiras já estabelecidas começam como entidades puramente digitais, sem o físico estrutura, escritórios e grandes arranha-céus que caracterizam o setor há anos.

Esta irrupção fez com que, em questão de meses, víssemos como grandes empresas bancárias, entre as quais podemos encontrar o Banco Santander, o BBVA ou o próprio Bankia na Espanha, tiveram que readaptar modelos de negócios muito volumosos, a modelos muito mais ágeis e dinâmico, menos caro e altamente digital. Modelos de negócios baseados principalmente no novo formato digital. Um formato digital que tem levado os bancos a adaptarem novos formatos nunca antes vistos no setor, fazendo com que se esforcem demais para garantir que a conversão seja realizada no menor tempo possível.

A banca é digitalizada para inovar ou, pelo contrário, por necessidade?

Esta é uma questão bastante complexa. A inovação tornou-se, nos últimos anos e dado o grau de avanço tecnológico, um dogma para as empresas. A empresa que não inova, como a que não cumpre o novo formato de RSC e relatórios não financeiros, está condenada a ser relegada a segundo plano, sendo ultrapassada por outras empresas que, no mesmo modelo de negócio, oferecem um acréscimo valor baseado na transformação e inovação. Isso tem acontecido no mundo bancário, pois as empresas de fintech não representam apenas um desafio para inovar, mas também uma fonte de competição direta para os bancos.

A concorrência direta que tem levado os bancos, diante da possibilidade de sofrerem novas quedas em suas receitas - dado o cenário apresentado pela economia, bem como as políticas acomodatícias do BCE que não param de assediar o setor -, começaram a adequar seus serviços a este novo formato digital, ao mesmo tempo que muitas entidades começaram a integrar iniciativas fintech nas suas complexas estruturas tradicionais. Seja por absorção, fusão, implantação ou criação, os bancos estão integrando a tecnologia fintech em seu setor, com o objetivo de que os bancos, em um futuro não muito distante, se tornem o que poderíamos chamar de “empresa digital”.

Avanço da Fintech

Nos últimos anos, vivenciamos uma irrupção digital excessivamente complexa. Uma irrupção digital que está fazendo com que quase todas as novas iniciativas financeiras nasçam com o “prefixo fintech”. Ou seja, entre os empreendedores do mundo financeiro, todos os projetos desenvolvidos estão focados em um banco digital, um banco fintech, onde os processos se baseiam em um grande componente digital como denominador comum, posteriormente extraindo seu valor agregado na especialização de os serviços.

O exposto está fazendo com que essas iniciativas tenham grande crescimento nos últimos anos. Um crescimento que não só tem sido corroborado pelos próprios bancos, mas que, segundo os registros contínuos que fazem junto a diferentes empresas de auditoria, é um setor que não pretende deixar de ganhar impulso, dobrando seus números a cada ano, com um presença cada vez mais consolidada no mercado global e uma exponencialidade que leva a previsões de grande magnitude. Para se ter uma ideia, estamos falando de um setor que, já em 2016, tinha um valor monetário próximo a 22,3 bilhões de dólares em todo o mundo.

Mas o que é curioso e empolgante na situação não é a quantidade de que estamos falando, mas a capacidade de crescimento das próprias plataformas. No caso da Espanha, as plataformas fintech não param de crescer exponencialmente. De acordo com os números apresentados pelo setor, as empresas de fintech cresceram, em relação a 2018, 63%. Ou seja, as empresas de fintech na Espanha estão crescendo em níveis em que o crescimento vem dobrando ano após ano, registrando esse padrão ano após ano, desde 2014. Algo que, no momento, não está acontecendo em muitos setores.

Mas isso, no caso da banca, é algo que, ao mesmo tempo que a obriga a transformar todos os seus métodos de trabalho, em muitos casos - não podendo ser semelhante - a integrar as próprias plataformas no negócio. Uma integração que nasceu como uma terceirização de serviços pelo banco, delegando-os a modelos fintech. Um sistema que já é executado por todos e cada um dos bancos que estão presentes no planeta. No momento, não há um único banco no mundo desenvolvido que não esteja integrando plataformas fintech, ou as desenvolvendo, para tentar ingressar no novo ambiente digital a que a fintech nos conduziu.

Políticas desfavoráveis

Mas, voltando ao que foi discutido anteriormente, nos perguntamos se a transformação pela qual o banco está passando é causada ou voluntária; uma transformação necessária ou, pelo contrário, opcional. Pois bem, para dar uma ideia mais objetiva sobre a pergunta e a possível resposta, devemos atentar para o cenário que a banca tem vivido nos últimos anos. Um cenário em que as políticas acomodatícias do BCE, bem como as baixas taxas aplicadas pelos bancos centrais em resposta a uma economia que carecia de estímulos, acabaram com grande parte da rentabilidade do setor bancário; que, em inúmeras ocasiões, tem mantido um acalorado debate, também muito tenso, com os próprios bancos centrais, dada a situação.

A economia vive há alguns anos em que o fim do ciclo expansivo que vivíamos ameaça uma recessão. Diante do ocorrido, levou os bancos centrais a aplicarem novas políticas de estímulo entre as quais, como é convencional, foram aplicados cortes contínuos nas taxas de juros; puxando, é claro, as taxas para níveis mínimos e altamente residuais, com o intuito de estimular o crédito e o consumo. Assim, contar que as taxas de juros marcam a lucratividade dos bancos, causou quedas acentuadas na lucratividade dos bancos, pesando gravemente para baixo seus índices de negócios.

Nos últimos anos, dada a política exercida pelos bancos centrais, pudemos observar como a rentabilidade do capital bancário, o ROE, está bem abaixo dos níveis exigidos pelos acionistas, destruindo continuamente o valor do setor. Com uma Euribor e um ROE negativos que, longe de estarem no seu ponto ideal, estão em constante declínio, os bancos enfrentam um grande desafio para fazer com que o seu negócio volte a ser tão rentável como, a priori, o era. A rentabilidade, portanto, está sendo buscada no setor de fintech, adaptando, como dissemos, seus modelos de negócios para o formato digital, no qual os custos fixos acabam sendo um item minoritário.

E é por isso que vimos tantos fechamentos de escritórios nos últimos anos. Se olharmos atentamente para o setor, na Espanha mais de 20.000 agências bancárias foram fechadas na última década. O cenário tortuoso que os bancos estão enfrentando tem levado as empresas financeiras a destruir quase todo o seu modelo físico de negócios, sendo substituídos por modelos digitais. Um formato físico que, neste cenário, está condenado a desaparecer, pelos 2 factores que temos vindo a referir. O que nos leva a várias conclusões: o banco se adapta por necessidade, bem como por uma competição cada vez mais presente de fintech.

Por isso, dizer que a mudança bancária se deve à inovação pode ser considerado mais do que questionável. A irrupção da fintech a que nos referimos ao longo do artigo foi um dos verdadeiros desencadeadores desta “inovação” que a banca começou a realizar. Nesse sentido, com o problema que as empresas enfrentam em um ambiente de políticas extrativistas para o setor, ele tem se acentuado e acelerado. O sistema bancário enfrenta um grande desafio, desafio que começa com uma conversão efetiva e no menor tempo possível, pois precisa reverter uma situação que, como mostram os indicadores, já começa a ameaçar a saúde financeira do próprio setor bem como o capital de seus acionistas.