A fratura da economia mundial limita o crescimento

A anomalia vivida pelos mercados internacionais teve um forte impacto na procura externa, provocando uma moderação do crescimento. Os discursos nacionalistas ganham cada vez mais peso na opinião pública, gerando situações que nos levam a uma economia cada vez mais fraturada.

Muito se fala sobre uma economia globalizada, uma economia interconectada, um sentimento global. Porém, nos últimos anos, surgiram movimentos que, politicamente, ameaçam essa interconexão econômica que temos vindo a consolidar ao longo dos anos. Tratados que deram origem a estruturas econômicas mais robustas e complexas - como a União Europeia - estão sendo ameaçados, com movimentos céticos que defendem a separação.

A luta pelo poder, o egocentrismo de políticos e populismos estão criando um cenário bastante incômodo para o fenômeno que chamamos de globalização. Ao longo dos anos, a cooperação internacional e essa interconexão nos permitiram fazer coisas que, anos atrás, eram impensáveis ​​para nossa sociedade. O desenvolvimento econômico em um mundo globalizado tem nos permitido conectar economias com outras, permitindo um intercâmbio permanente de bens e serviços, bem como da cultura de cada país.

O nível de globalização é tão alto que é cada vez mais comum ver essa transferência de cultura, produtos, serviços, entre outros aspectos, em todos os países que compõem o planeta. No entanto, a situação que atravessa a economia, encerrando esse ciclo expansivo e com decisões que geraram tensões geopolíticas, como dissemos, estão levando o planeta a fraturas internas que fragilizam esses acordos, essas pontes, que nos ligavam.; o protecionismo ganha presença no discurso político e os efeitos já são notáveis.

Estados Unidos, Reino Unido, Itália, China, entre outros. Todos nós testemunhamos o que está acontecendo em nossa economia. As tensões geradas fazem com que cada vez mais países apresentem frentes políticas que defendem a separação, o protecionismo e o nacionalismo como solução para os problemas. Nacionalismos que, como dissemos, ameaçam aquela conexão global que nos levou a nos fortalecermos como economia. No entanto, a ânsia de poder e a perda de soberania levantaram questões sobre se essa interconexão é lucrativa para todos os países ou apenas para alguns.

No caso da União Europeia, isso foi duramente criticado e questionado. Muitos países membros, nos últimos anos, usaram o euroceticismo no debate público. Eurocepticismo que integrou como base argumentativa o enriquecimento de certos países, como a Alemanha, à custa de sufocar outras economias auxiliares como a Itália ou o Reino Unido. E digo Itália e Reino Unido pela simples razão de que, até agora, foram as economias que mais despertaram esse desejo de fraturar a comunidade como um todo e buscar a rota de fuga; no caso do Reino Unido, já iminente.

A situação econômica dá oxigênio aos nacionalismos

Desde o início do ano, a economia global passa por uma desaceleração econômica que sempre assombra o crescimento esperado. Uma desaceleração que, como já descreveu o Fundo Monetário Internacional (FMI), está ocorrendo em grande parte das economias. Especificamente, 90% das economias do planeta estão sofrendo os impactos negativos da desaceleração, após a maturidade alcançada neste longo ciclo expansivo que vivemos nos últimos anos. Por isso, desde o organismo multilateral, definem essa desaceleração como uma desaceleração sincronizada, uma vez que não está se preparando expressamente para uma determinada economia.

Esta situação tem feito com que muitos países, vendo como sofrem as suas taxas de crescimento e a sua economia, procurem encontrar a situação para, no mínimo, impulsionar o crescimento de forma a atenuar a situação e assim evitar uma recessão muito temida. No entanto, essas medidas, dada a soberania monetária europeia, são incapazes de surtir efeito. Por isso, diante dessa real incapacidade, certos líderes políticos questionam a eficácia das medidas comunitárias diante de políticas econômicas acomodatícias que têm cada vez menos efeitos incidentes.

E é que, com a aplicação do QE, da expansão quantitativa, bem como das políticas de taxas negativas, a União Europeia tem alardeado todas as suas políticas econômicas expansionistas. Tanto alarido que, face ao abrandamento, a aplicação de uma política expansionista mais intensa já não tem qualquer efeito verificável na economia europeia. O crescimento continua a desacelerar, as revisões são muito descendentes e, com todos os estímulos na mesa, o dinamismo do produto interno bruto (PIB) europeu é nulo. Uma situação que disparou alarmes em governos como a Itália.

Diante da situação, governos como o italiano, vendo como a Itália entrou em recessão técnica depois de colher duas contrações consecutivas em seu PIB, passou a usar em seu discurso, justificando a recessão, as más práticas adotadas pela Europa e a impossibilidade de aplicar políticas eficazes na país devido ao não cumprimento da PEC estabelecida pela União Europeia. Discurso que, embora sem sentido pelas práticas específicas que estão a ser aplicadas, tem surtido efeito numa população que já acusa a União Europeia de travar o crescimento económico do país.

Situação que, como referimos no início do artigo, está a fazer crescer a ascensão dos eurocépticos no país italiano, atendendo a discursos proteccionistas e nacionalistas, onde a cooperação e a globalização não têm lugar. Notícia muito triste, porque se olharmos para os fenômenos econômicos que mais contribuem para o crescimento agregado do PIB mundial, podemos ver como o comércio internacional e as transações repetidas entre os países é um dos fenômenos que mais contribuem com oxigênio.

Comércio internacional e crescimento em jogo

Cerca de 60% do PIB mundial é representado pelas transações e exportações que a globalização e o livre comércio entre as economias geram. Grande impacto na economia e carente de defesa nos discursos nacionalistas. Situação que resultou no que vemos agora, onde as duas principais economias que lideram o planeta estão imersas em uma guerra comercial; o Reino Unido luta para quebrar seus tratados com a União Europeia; enquanto a Itália continua a buscar apoiadores para acabar com aquele jugo comunitário que os impede de aumentar os níveis de dívida pública acima dos elevados 140% do PIB que apresenta atualmente.

De acordo com relatórios da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio global está sofrendo uma das maiores desacelerações da história. Um fenômeno como o comércio, que não parou de crescer ano a ano ao longo dos anos, agora, dada a situação do planeta, se deteriora com o passar dos meses. As projeções com relação ao comércio são bastante negativas e, dos principais organismos multilaterais, já alertam que essa situação não é benéfica para a economia.

Lembremos que, como já foi dito, o comércio é uma das principais adições ao crescimento da economia. A estagnação do comércio, conforme os discursos protecionistas e nacionalistas têm feito, está levando a uma queda acentuada na demanda externa, que encerrou o crescimento em muitas economias que dependem do setor externo para crescer. A queda nas exportações fez com que economias como a Alemanha acabassem beirando a recessão ou apresentando crescimento zero, enquanto outras, como os Estados Unidos, pesaram em suas projeções de crescimento em quase um ponto percentual.

A economia estagnou, principalmente devido à paralisação do comércio. Enquanto a OMC previa um crescimento do comércio de cerca de 2,6% no início do ano, a situação obrigou o órgão de supervisão a moderar essas projeções para 1,2%. Esta queda acentuada é provocada pelas tensões nos mercados internacionais, na falta de esclarecimento sobre o desfecho do maior choque que a economia está a viver neste momento, a guerra comercial. Uma guerra comercial em que, apesar de o resultado ter sido anunciado em várias ocasiões, ainda não foi alcançado um acordo.

E é que, em um discurso como o do presidente Trump, onde a cooperação internacional e o livre comércio têm pouco espaço, as relações bilaterais entre as duas economias continuam se deteriorando, surgindo constantemente novas tensões que impedem a consolidação do referido acordo. Uma situação que continua a pesar as economias, dada a impossibilidade de operar em mercados que apresentam elevado grau de anomalia. Da OMC, eles descrevem esta situação como desanimadora, uma vez que os obstáculos ao crescimento estão sendo aplicados apenas por interesses nacionalistas que apenas tentam impedir o progresso.

Podemos reconhecer que a cooperação internacional tem muitas falhas e que devem ser corrigidas. No entanto, os discursos de alguns governos tentam fraturar a cooperação, ao invés de buscar uma solução. Não podemos ir contra o progresso, mesmo que haja divergências que podem ser resolvidas com o diálogo. Vivemos em um mundo globalizado e o progresso que isso trouxe para a economia está em claro perigo devido aos conflitos de interesse. Devemos pensar mais sobre uma estrutura comunitária e defender desenvolvimentos inclusivos; Bem, se continuarmos assim, continuaremos a suscitar uma incerteza que assombra severamente a economia e o progresso.

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