O labirinto petrolífero venezuelano

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Anonim

Certamente muitos acham difícil acreditar que a Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo, esteja enfrentando um problema de escassez de gasolina. Também é surpreendente que a Petróleos de Venezuela S.A. (PDSVA), empresa estatal responsável pela exploração do petróleo, não consegue escoar 50% da produção diária. Mas o problema do petróleo venezuelano não é uma questão de quantidade, mas de qualidade.

Com a Venezuela atolada no dramático problema da hiperinflação, um novo problema se acrescenta à economia nacional: eles não conseguem encontrar compradores para preencher a lacuna deixada pelos Estados Unidos.

Exportações de petróleo, principal fonte de receita

As exportações de petróleo constituem a principal fonte de receita dos cofres do Estado venezuelano. Prova disso é que a venda do chamado “ouro negro” responde por mais de 90% da receita do Orçamento do Estado.

Com as sanções impostas pelos Estados Unidos, a Venezuela perdeu um comprador muito importante. Tamanho é o peso dos Estados Unidos nas compras de petróleo venezuelano que, dos cerca de 1,5 milhão de barris por dia produzidos em 2018, durante o mês de novembro foi feito com 560 mil barris por dia. Ou seja, 35% da produção diária.

No entanto, o governo Trump optou por uma política de sanções contra a Venezuela, o que tem dificultado suas exportações de petróleo. E é isso, a venda de crude supõe praticamente todas as entradas de divisas.

E o resto do óleo?

Portanto, o seguinte é a questão. O que acontece com o resto do óleo? Os Estados Unidos são o único comprador?

Bem, boa parte da produção de petróleo da Venezuela não representa receita para o estado. Isso porque a Venezuela mantém uma dívida elevada com países como China e Rússia. Lembre-se que a China concedeu-lhe um empréstimo no valor total de 13 bilhões de dólares, enquanto a Rússia emprestou cerca de 2.500 milhões de dólares. Para fazer frente ao pagamento das dívidas contraídas com grandes potências como China e Rússia, a Venezuela envia cerca de 450 mil barris por dia para os dois países.

Um dos grandes aliados da Venezuela foi Cuba. Essa aliança política também se materializou em compromissos econômicos. Assim, enquanto a Venezuela envia 49 mil barris por dia a Cuba, o país presidido por Nicolás Maduro recebe apoio da inteligência médica e militar. Em outras palavras, é um grande comércio de petróleo para saúde e suporte de inteligência.

Portanto, o grande problema que a Venezuela enfrenta é que, alocar tão grandes quantidades de petróleo para pagar suas dívidas, a impede de obter a tão necessária receita com as exportações de petróleo.

Um óleo muito pesado

Outro aspecto a ser levado em consideração é a qualidade do petróleo venezuelano. Embora o país tenha enormes reservas de petróleo, o problema é que seu petróleo é muito pesado. Isso significa que o petróleo da Venezuela tem muito enxofre e muitos resíduos metálicos, o que requer um processo de refino.

O grande problema que a Venezuela enfrenta é que não possui a tecnologia necessária para refinar esse óleo pesado. Sua indústria está obsoleta e suas instalações petrolíferas não são as mais adequadas para o refino de petróleo.

Por outro lado, as instalações nos Estados Unidos contam com a tecnologia necessária para o refino do petróleo venezuelano. Também não devemos esquecer que as plantas petrolíferas localizadas na Venezuela precisam de solventes fabricados nos Estados Unidos para realizar os processos de refino. Isso significa que, sem os solventes dos EUA, a produção diária de petróleo da Venezuela cairia cerca de 30%.

Para complicar ainda mais o labirinto do petróleo venezuelano, descobrimos que a Venezuela importou 106.000 barris por dia dos Estados Unidos. Essa gasolina foi entregue a cidadãos venezuelanos por meio da estatal PDSVA.

É possível um apagão de energia?

É claro que, com a posição firme estabelecida pelo governo dos Estados Unidos, a Venezuela ficou sem seu principal fornecedor de gasolina. A tudo isso deve-se acrescentar que a Venezuela também não poderá exportar petróleo para os Estados Unidos, o que a deixará sem sua grande fonte de divisas, ficando sem receita para adquirir petróleo de outros países.

Isso leva a Venezuela a um problema imediato de escassez de gasolina. No entanto, o impasse vai além e pode levar a uma grave crise energética, já que as termelétricas do país caribenho operam com derivados de petróleo.

Com a hiperinflação devastando a economia e o país afundando em um mar de petróleo do qual eles não conseguem se livrar, muitas questões pairam sobre a Venezuela.