Sem reformas, a história está fadada a se repetir

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Anonim

Diante de uma das maiores crises da história, muitos são os economistas e políticos que falam em implementar reformas. Reformas que, da mesma forma, pareciam em crises anteriores e ainda não são aplicadas.

Se esta pandemia nos deveria ter ensinado algo, é que, da mesma forma que hoje temos um modo de vida em que o bem-estar é a principal característica, amanhã, por motivos diversos, aquele bem-estar que nos precedeu pode desaparecer e nunca mais voltar. Uma espécie de cisne negro, como comentou o matemático Nassim Taleb, devastou o planeta, mostrando que o que só poderia ser explicado em um filme de ficção científica também pode ser encontrado na vida real. E, como se costuma dizer, fica aqui um exemplo de que a realidade, em muitas ocasiões, supera a ficção.

Olhando para trás, muitos são os analistas que, agora, acreditam encontrar a explicação para tudo isso em conspirações que, como a fala de Bill Gates sobre pandemias, parecem fazer sentido - como qualquer conspiração - e poderiam ter alertado sobre uma pandemia que estava se aproximando do nosso planeta Terra. No entanto, infelizmente para muitos, esta pandemia, por mais que tentemos, devemos saber que era impossível prever; Principalmente quando, por sua natureza, não só não somos mais capazes nem disso, mas também não somos capazes, tampouco, de controlar a situação em sua presença.

No entanto, apesar de não termos podido prever, ninguém disse que não tivemos tempo para nos prepararmos para uma crise desta magnitude, bem como para tomarmos as medidas adequadas para podermos amortecer o impacto e saia disso com louvor. E não, para se preparar não é necessário prever a pandemia, nem prevenir as próximas crises. A preparação é elementar, e tal como a fazemos para evoluir no futuro, profissionalmente falando, devemos fazê-la para evitar que uma crise como esta acabe com o nosso presente, como o faz hoje.

Nessa linha, muitos economistas muitas vezes se perguntam como fomos capazes de chegar até aqui, vivendo em uma fase da história em que temos mais recursos do que nunca, tanto materiais quanto humanos. No entanto, da mesma forma, não se perguntam como, apesar de terem registrado anos de crescimento, tem havido países que continuam perpetuando em seus balanços níveis de endividamento que superam 100% de seus respectivos níveis de produto interno bruto (PIB). Assim, é também muito marcante que se façam afirmações deste tipo, quando há economias a que chamamos economias emergentes, e que hoje apresentam níveis de informalidade económica a ponto de terem um mercado de trabalho em que os 50% da população ocupada encontra-se em situação de informalidade.

E é que, em muitas ocasiões, falamos de reformas que, como se fossem um brinde ao sol, ficam em simples fofoca. Porém, quando uma crise como essa assola tudo em seu caminho, essas fofocas ecoam no subconsciente dos mesmos gestores que antes as falavam, acreditando que cairiam no esquecimento.

E se começarmos com a informalidade econômica?

Se pararmos para observar os dados oferecidos por alguns países, como dissemos no início, podemos ver como a situação apresentada por muitos antes da pandemia já era assustadora. Por isso, é até surpreendente que seus políticos falem em recuperar os níveis anteriores à pandemia que se apresenta hoje, quando esses níveis já eram prejudiciais para a própria gestão do país muito antes de o COVID ser epidemia local.

A América Latina é um exemplo disso. A menor capacidade de prover recursos às respectivas economias foi um dos principais obstáculos enfrentados pelos países latino-americanos diante da crise derivada da COVID. Porém, da mesma forma que falamos dessa falta de recursos e dessa menor capacidade, devemos explicar por que essa falta de recursos é devida, bem como essa menor capacidade, levando em consideração as reformas que, apesar de necessárias para a economia , ainda não são aplicados nas diferentes economias que a região possui.

Em termos macroeconômicos, devemos saber que a América Latina possui um setor informal bastante grande, ultrapassando até 40% do PIB de todo o continente. Com os dados do Americas Society Council of Americas, a maioria dos países apresenta um percentual de informalidade próximo ou superior a 50%. E é que a América Latina tem economias que, levando em consideração sua informalidade econômica, chegam a tocar 65% do PIB na economia informal. Situação que, apesar da dureza dos dados oferecidos, já se perpetuou como se fosse um câncer terminal.

Em termos de emprego, por exemplo, a pandemia deixou um cenário desolador em todo o planeta. A paralisação forçada da atividade econômica acabou com toda a atividade econômica nos diferentes países. Situação em que muitas economias, em todo o planeta, passaram a aplicar mecanismos para proteger a renda dos cidadãos que não podem desenvolver sua profissão. Algo que, para muitos países latino-americanos, nem mesmo com recursos, é possível.

Nesse sentido, levando em consideração os dados de emprego apresentados pelos países latino-americanos, e de acordo com a Organização Internacional dos Trabalhadores (OIT), na América Latina e no Caribe existem pelo menos 140 milhões de pessoas trabalhando em condições informais, o que representa cerca de 50 % de trabalhadores. Tudo isso, tendo em vista que, como afirma a organização, estamos falando de uma situação em que o crescimento econômico, por mais dinâmica que seja a economia, não está se mostrando a solução. E é que, apenas para o México, e sendo a primeira economia da América hispânica, o emprego informal durante a pandemia representou 51% dos trabalhadores empregados no país.

Como podemos ver, nem mesmo com os recursos para enfrentar a pandemia, o México teria sido capaz, como muitas outras economias latino-americanas, de enfrentar a pandemia e proteger seus trabalhadores. Tudo isso simplesmente pelo fato de, de acordo com os indicadores, nem 50% deles serem oficialmente reconhecidos como trabalhadores.

Nesse contexto, mesmo em termos de recursos, as reformas que teriam trazido aquela preparação a que nos referimos no artigo teriam ajudado no combate à pandemia. Pois bem, pelos indicadores, a falta de recursos nada mais é do que a consequência de uma falta de reformas que passa despercebida e que também impede os países da região de se desenvolverem adequadamente. Nesse sentido, no que se refere ao caso do México, por ser uma das economias mais importantes da região, tem uma arrecadação tributária que, como percentual do PIB, é de 16%. A falta de recursos motivada por aquela informalidade econômica que impede a cobrança de impostos e que leva a economia mexicana a ocupar uma das piores posições no ranking elaborado pela OCDE.

No entanto, em síntese, as crises continuam a ocorrer, enquanto as agências, depois de uma análise da situação, voltam a manifestar nas suas conclusões os mesmos problemas que, em anos anteriores, nos levaram a situações semelhantes à que hoje vivemos. E devemos saber que, junto com a América Latina, outras economias, como a Espanha, apresentam situações semelhantes e que devem ser corrigidas com grandes reformas estruturais; entretanto, o conflito de interesses produz situações que levam a cenários como o atual. Portanto, a questão agora não é quando ou como será a próxima crise, mas quando serão as reformas de que a economia tanto precisa e que, apesar dessas crises que mencionamos, não serão aplicadas.