O fracasso da economia planejada da Venezuela

Anonim

As ruas de Caracas são confrontadas entre aqueles que continuam a apoiar o Governo e aqueles que pedem a sua renúncia. Desta forma, a sociedade venezuelana se dividiu nos últimos anos, e cujo gatilho tem sido a escassez de produtos básicos, além do clima de insegurança cidadã e repressão política. Desta forma, a economia venezuelana mostra as fragilidades de um modelo lançado em 1999 e que pretendemos analisar neste artigo.

A política econômica que a Venezuela vem aplicando nos últimos anos (caracterizada por forte intervenção do Estado em detrimento do setor privado) tem como objetivo principal impulsionar o crescimento econômico por meio do estímulo à demanda agregada, com o acréscimo de políticas redistributivas que permitissem uma maior distribuição de renda igual. Para isso, o Governo contou com uma política fiscal claramente expansionista. Mas, para financiá-lo, precisava de recursos financeiros que não tinha e que não poderia obter aumentando a carga tributária.

Para se financiar, as autoridades venezuelanas decidiram aproveitar a abundância de petróleo do país e nacionalizar as empresas do setor. Assim, estabeleceu-se uma forte dependência entre o setor petrolífero e a economia venezuelana, uma vez que esta era cada vez mais controlada pelo Estado, e esta por sua vez dependia das exportações de petróleo para evitar o déficit.

A análise dos dados permite concluir que a economia venezuelana experimentou um período de crescimento no período 1999-2012 (embora certamente afetada pela contração do comércio internacional em 2009), com saldos comerciais positivos e um aumento contínuo tanto das exportações como exportações.importações, o que costuma ser um claro indicador dos processos de abertura econômica (embora na Venezuela este fenômeno só tenha ocorrido no comércio, e não em outras áreas como os mercados financeiro e de capitais). Desde 2013 a tendência se inverteu e as vendas para o exterior são reduzidas, o que significa ter menos divisas para financiar as compras. É assim que se observa redução das importações e exportações e, portanto, uma economia cada vez mais fechada.

No entanto, apesar das tendências nos períodos 1999-2012 e 2013-2015, existem dois processos que permanecem inalterados ao longo do tempo. O primeiro é o crescente papel do setor público nas exportações, e o segundo é a crescente dependência do petróleo (que já representava 91,63% das vendas externas em 2015). Tendo em conta que a nacionalização do sector acabou com as exportações de petróleo privadas em 2008, os dados mostram um sector privado deficitário (evidenciado pelo facto de as suas importações excederem largamente as exportações) e cada vez mais estrangulado pela intervenção do sector público.

Da mesma forma, o fortalecimento do Estado gerou graves problemas de déficit, já que o setor privado da Venezuela foi tão severamente punido por regulamentações que mal consegue sobreviver. Assim, entra-se em um círculo vicioso em que um aumento de impostos ou uma regulação mais restritiva destrói emprego e riqueza no setor privado, e o Estado decide aplicar políticas fiscais expansionistas para impulsionar a demanda e compensar esse declínio: é o que muitas autoridades políticas eles chamam de "redistribuição". O problema é que essas medidas precisam ser financiadas de alguma forma, o que sempre acaba sendo mais impostos que alimentam um ciclo vicioso de alta de impostos e a necessidade de políticas fiscais expansionistas. É o que está acontecendo atualmente na Venezuela e o que, aliado à insegurança jurídica, tem desencadeado o custo de financiar o país nos mercados internacionais com os CDS mais caros do mundo (56,79% do capital investido, superando inclusive países em guerra civil como a Ucrânia ou resgatado três vezes como a Grécia).

Em outros países, talvez a dívida insustentável e a impossibilidade de continuar a aumentar a carga tributária teriam obrigado o Governo a retificar. Na Venezuela, por outro lado, não foi esse o caso e as autoridades têm contado com a monetização do déficit para manter as políticas de gasto público. O efeito mais visível foi um crescimento descontrolado da inflação, que em 2015 atingiu 108,20% ao ano (em números do Banco Central da Venezuela, a inflação real é possivelmente ainda maior). Por sua vez, o aumento dos preços gerou desabastecimento, com clara deterioração da qualidade de vida da população. O governo tem tentado amenizar a escassez de produtos básicos com medidas de racionamento e controle de preços, mas os resultados hoje são muito limitados. Além disso, a inflação levou Maduro a estabelecer três taxas de câmbio oficiais, causando preços desproporcionais em muitos alimentos.

Concluindo, podemos dizer que os níveis de inflação e endividamento da Venezuela já são praticamente insustentáveis. O modelo de crescimento baseado na redistribuição e no petróleo implantado desde 1999 pelos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro foi capaz de gerar crescimento até 2012, mas é ele o responsável pela atual recessão: as leis econômicas estabelecem que apenas políticas fiscais expansivas trabalhar em economias fechadas. O próprio governo contribuiu para o fracasso de suas próprias políticas econômicas, com o agravante de que as exportações se concentraram em um único produto cujos preços caíram a mínimos históricos (seguindo assim o caminho oposto ao de outros países produtores de petróleo, como México).

A situação atual na Venezuela, mesmo no nível social, é certamente muito difícil. As políticas fortemente ideológicas das autoridades, como na Argentina e em outros países americanos, fracassaram devido à dinâmica ditada pelas leis econômicas. A questão agora está na capacidade dos políticos venezuelanos de retificar seus erros.

Economia planejada