Globalização em destaque

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Anonim

O Coronavirus reabriu o debate que questiona a eficiência de uma economia globalizada, declarando guerra à globalização. O bloqueio de fronteira continua a alimentar discursos políticos perturbadores.

Nas últimas semanas, em torno do debate que o Coronavirus tem provocado na sociedade civil, começamos a ouvir antigos discursos que, sob a égide do populismo reacionário, foram reintroduzidos no debate político. Discursos que se referem a oportunismos tão proeminentes como o uso do bloqueio comercial que esta pandemia supõe para reforçar posições tão contrárias ao desenvolvimento como a desglobalização -ou antiglobalização- ou tensões comerciais entre países com ares de nacionalistas em teoria, bem como mercantilistas na prática.

E é que, no cenário que vive a economia no momento, foram reabertos velhos debates que têm despertado a preocupação de alguns governos. Debates como o problema que a globalização representa para as economias, bem como questionar aspectos tão essenciais como a distribuição das cadeias de valor pelo planeta, aludindo às repercussões que os bloqueios dessas cadeias de abastecimento têm, num cenário em que aquela China se tornou o primeiro elo da cadeia que reúne todo o processo de fabricação.

Estamos a falar de uma economia que, em questão de anos, conseguiu igualar o seu produto interno bruto (PIB) ao PIB de toda a zona euro. Com 17% do PIB mundial, a China tornou-se uma opção real para liderar, junto com outras, o arcabouço geopolítico, baseando sua estratégia no crescimento que tem permitido ganhar relevância no plano que configura a ordem mundial. Nesse sentido, a China é o maior fornecedor de bens intermediários, considerando-se a maior fábrica do planeta. Uma série de acontecimentos que, em certos territórios, foram considerados mais uma ameaça do que um fato famoso.

O pior pesadelo da China: Donald Trump

Estávamos nos referindo ao fato de que, em certos territórios, as conquistas da China estão começando a representar mais uma ameaça do que qualquer outra coisa. Nesse sentido, acredito que nem seja necessário comentar qual país se posicionou contra ela, liderando a guerra moral contra os “propagadores do vírus”. São os Estados Unidos que, liderados pelo seu Presidente, deram início àquela guerra de prestígio em que os Estados Unidos procuram colocar a responsabilidade do surto no país asiático, dadas as dificuldades que o controlo do vírus apresenta no território americano. país.

Além disso, sendo esta uma de suas principais preocupações nos últimos anos, não foi surpreendente que Trump aproveitou tal cenário para martelar sua tão esperada negociação comercial com a China com um cinzel e um martelo. Uma negociação que, em condições normais, é uma guerra, mas que, nesse sentido e diante do ocorrido, acabou relaxando, ou adiando até que tudo isso sobre o vírus acalme. No entanto, as mensagens do presidente não poderiam faltar nesse contexto, pois a falta de suprimentos reaviva antigos discursos do magnata norte-americano.

El impulsor del “América First” ha sido un férreo defensor de la industria nacional, así como el proteccionismo que ya no solo provea de bienestar a los ciudadanos norteamericanos, sino que no permita, como decía el Presidente, enriquecer a otros países a costa de capital. Nesse sentido, Trump sempre foi muito crítico em relação à realocação da cadeia de valor, bem como ao fato de grandes multinacionais terem implantado suas cadeias de valor em todo o planeta. Um fenômeno que, se repatriados, poderia, para Trump, impulsionar o emprego e, em cenários de pandemia, não perder a capacidade de oferta que, diante do ocorrido, a China perdeu.

O bloqueio de fronteira que o planeta apresenta tem prejudicado os produtos chineses, impedindo-os de chegar a outros países. No entanto, quando o primeiro elo da cadeia e a maior fábrica do mundo passa a ter sua atividade restrita a suprimentos básicos e territórios locais, os demais países, necessitando de suprimentos do gigante asiático, ficam sem acesso a todos esses bens e recursos . Além do fato de que, como não há indústria desse tipo nos demais países, não é possível continuar fabricando neles. E, nesse sentido, é por meio da qual o debate que mencionamos foi reaberto.

Para alguns, a eficácia, bem como a eficiência, de uma economia livre e globalizada está sendo altamente questionada em situações como a que nos acontece. A vantagem comparativa do economista clássico David Ricardo, bem como os benefícios deste, são ofuscados por um discurso nacionalista que questiona a globalização pela impossibilidade de abastecimento em cenários de bloqueio comercial. Um discurso que, enfatizamos, começa a penetrar cada vez mais em uma sociedade angustiada pela situação que o planeta atravessa, buscando um retrocesso nas cadeias produtivas, diante de uma situação que continua sem sinais de esgotamento.

A guerra pela globalização

Quando tudo isso acontecer, devemos estar cientes de que a sociedade terá que enfrentar um duro processo de desglobalização até a chegada de uma vacina, além de imunizantes, que protegem a sociedade de possíveis novos surtos de pandemia. Situação que vai ser reforçada e favorecida pelo medo e desconfiança dos cidadãos, que, como mostram os indicadores, continua no máximo face a um cenário tão incerto. Nesse contexto, em busca do paralelismo, o planeta compacto em que vivemos perdeu sua compressão diante das brechas que foram se abrindo, portanto, diante do ocorrido, é preciso purificá-lo e colocá-lo de volta em funcionamento .

No entanto, esse expurgo de que estou falando vai começar com essas cadeias de suprimentos, bem como com o comércio global de mercadorias. Mesmo involuntariamente, nos bastidores e até que possamos mais uma vez garantir a tranquilidade que o planeta mostrava antes da pandemia, vamos assistir a um forte recuo nas cadeias de valor, bem como a uma maior independência dos países. Os números do comércio de mercadorias, embora continuem em alta, mostrarão um crescimento mais moderado do que o mostrado anteriormente, antes que o Coronavírus infectasse as rotas comerciais globais que compõem o planeta.

E é que, dado o duro golpe que o mundo recebeu, nem o simples fato de viajar para o exterior será o mesmo. O medo está muito presente na sociedade e, perante isso, a solução mais eficaz é ficar em casa, sob a protecção de um Governo que se encarrega de resolver a situação e garantir o abastecimento de todos os bens e recursos que, como um cidadão, eu preciso viver. Um medo que beneficia muitos políticos mercantilistas, favorecendo seu discurso protecionista, alimentado pelo medo, assim como o ódio gerado por ver seu país mergulhar no caos da saúde por conta da “irresponsabilidade”.

Em suma, devemos estar cientes de que o planeta sofreu um golpe sem precedentes que vai deixar consequências em nossa sociedade. No entanto, essas sequelas não precisam ser o gatilho para promover, infelizmente, discursos que enviam mensagens de pessimismo e ódio. O mundo globalizado, a globalização, é o fenômeno do qual as economias mais se beneficiaram. O comércio global tornou-se uma das maiores contribuições para o PIB, dado o volume de mercadorias comercializadas por todos os países. A interconexão que vive o planeta tornou as empresas não mais locais, mas globais.

Essa interdependência, embora gerando tensões, também gerou uma cooperação nunca vista antes. A inclusão e integração financeira e econômica dos países, em um cenário globalizado, tem permitido que essas economias desfavorecidas do planeta comecem a apresentar sinais de crescimento, tornando-se economias emergentes. Não devemos ser enganados por mensagens que despertam medo, com mensagens sensacionais. É preciso atentar para a evidência empírica, que, até agora, só foi demonstrada por quem ganhou a batalha: a globalização.