Por que a economia chinesa está crescendo depois do COVID-19?

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Anonim

Segundo estatísticas oficiais, a China é o único país do mundo que viu seu produto interno bruto (PIB) aumentar em 2020. Qual a razão desse fenômeno?

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística Chinês (National Bureau of Statistics), o PIB do país asiático cresceu 2,3% em todo o ano anterior.

Este crescimento contrasta fortemente com a contração sofrida pelas maiores economias mundiais devido ao COVID-19, especialmente se considerarmos que a origem da pandemia se deu justamente na China.

Então, como podemos entender esse crescimento em tempos de crise global?

Uma economia diferente

"A primeira coisa a ter em mente é que a economia chinesa hoje é muito diferente do que era há algumas décadas."

A primeira coisa a ter em mente é que a economia chinesa hoje é muito diferente daquela de algumas décadas atrás. Nesse período, o país tem se integrado cada vez mais às redes de comércio internacional, principalmente por meio da realocação de processos industriais da Europa e dos Estados Unidos. Assim, embora ainda seja uma economia altamente regulada pelo Estado, pouco tem a ver com o isolamento autárquico de outros países comunistas como Cuba ou a Coréia do Norte.

A prova disso é o destaque das exportações, que em 1960 representavam apenas 4,31% do PIB e nos últimos anos se estabilizaram em 19%, segundo dados do Banco Mundial. Verificamos também uma evolução semelhante nas importações, o que nos permite concluir que o grau de abertura da economia chinesa ao mundo tem vindo a aumentar, apesar de manter práticas proteccionistas como a intervenção cambial ou o controlo do investimento estrangeiro.

De fato, segundo as mesmas fontes, se quantificarmos a abertura comercial como a soma das importações e exportações sobre o PIB, veremos que, em 2019, essa variável na China (35,65%) já ultrapassava os Estados Unidos (26,31% ) Embora não seja um indicador perfeito, esta evolução no referido indicador, que mede o peso do comércio sobre o PIB e, portanto, a sua abertura comercial, pode dar-nos uma indicação para supor que a economia chinesa está cada vez mais ligada à atividade económica global.

Outro fator a ser levado em consideração é que a distribuição entre os três grandes setores econômicos é diferente na China em relação ao Japão, Europa e Estados Unidos. Em primeiro lugar, a agricultura tem peso maior do que a média dos países desenvolvidos, empregando 25,36% da população ocupada e contribuindo com uma produção que representa 7,11% do PIB (dados de 2019). Recorde-se que esses mesmos valores na área do euro nesse ano foram de 2,88% e 1,55%, respetivamente.

O setor manufatureiro também tem um papel maior do que observamos em outras grandes economias. Se na China essas atividades geraram uma produção que representou 27,17% do PIB, na área do euro foi de 14,27% e nos Estados Unidos apenas 11,26%.

Ao contrário, algumas atividades do setor de serviços, como lazer ou turismo, têm menor importância relativa no PIB global. Tudo isso significa que as medidas de distanciamento social implementadas em todo o mundo tiveram um impacto diferente na economia chinesa, em comparação com o experimentado em outras grandes economias.

Setores em expansão e crise

"A pandemia levou a uma mudança drástica nos hábitos de consumo em todo o mundo, e a indústria chinesa foi capaz de atender às novas necessidades dos consumidores."

No caso da agricultura, o impacto não só foi limitado, mas o setor até se expandiu mais do que a economia como um todo, com um crescimento de 3%. A exemplo do que aconteceu em outros países, a estabilidade da demanda por muitos produtos (principalmente ligados ao consumo interno), e a maior facilidade de tomada de medidas de distanciamento, reduziram o impacto da pandemia na atividade. No caso da China, talvez pudéssemos acrescentar como fator adicional o fato de boa parte da produção agrícola depender relativamente menos da demanda internacional, já que boa parte dela se destina à alimentação do país mais populoso do mundo.

A indústria, por outro lado, apresenta um maior grau de abertura externa e, portanto, não está isenta das dificuldades por que passou a economia mundial; embora isso não o tenha impedido de crescer. A razão é que, embora tenha havido uma queda acentuada da atividade no primeiro trimestre de 2020, desde então houve uma recuperação em vários setores.

Essas atividades, potencializadas pela pandemia, incluem aquelas relacionadas a suprimentos médicos (máscaras, luvas, aventais, etc.), mas também produtos relacionados a aparelhos eletrônicos cuja demanda tem beneficiado com o teletrabalho. Outro fator positivo para a indústria chinesa tem sido o aumento das compras online em detrimento do comércio local, uma vez que muitos dos grandes distribuidores de comércio eletrônico têm seus fornecedores na China.

Podemos, portanto, dizer que a pandemia provocou uma forte mudança nos hábitos de consumo em todo o mundo e que a indústria chinesa tem conseguido atender às novas necessidades dos consumidores em outros países. Os dados mais recentes do PIB são um claro indicador desse fenômeno: a indústria cresceu 2,4% ao ano e, o que é mais surpreendente, a evolução do setor de TI mostra como ele cresceu 16,9%.

O setor de serviços, por outro lado, foi o mais afetado, com a hotelaria liderando as quedas com -13,1%. As vendas no varejo também caíram no último ano (-1,3%), mas como comentamos, essas atividades têm um peso relativo no PIB inferior ao de outros países desenvolvidos, o que tem ajudado a amortecer o impacto sobre o total da a economia.

Razões para otimismo?

"Embora seja um número positivo, não há crescimento tão negativo desde 1976, quando o PIB se contraiu 1,57%."

À primeira vista, esses dados parecem dar motivos suficientes para afirmar que as perspectivas para a economia chinesa diante do novo ano são claramente positivas. No entanto, também existem outros fatores que podem complicar o cumprimento dessas disposições. Em primeiro lugar, embora seja positivo que o PIB tenha conseguido crescer em 2020, não devemos esquecer que o fez a um ritmo muito baixo para um país onde o crescimento médio nas últimas décadas tem rondado os 7%. De fato, esse número negativo não era registrado desde 1976, quando o PIB se contraiu 1,57%.

Por outro lado, nas últimas décadas, um dos objetivos da política econômica chinesa tem sido manter taxas de crescimento acima de 8% ao ano, já que tradicionalmente se considerava que esse nível era o mínimo necessário para absorver a cada ano os milhões de novos. trabalhadores ingressando no mercado de trabalho ou mudando-se do campo para a cidade. Hoy, la ralentización demográfica podría quizás rebajar en parte esta exigencia, pero en cualquier caso no debemos suponer que tasas del 2-3%, que serían muy positivas en Europa o Estados Unidos, podrían tener un efecto tan positivo en la economía emergente mas grande do mundo.

Por fim, há também um certo grau de incerteza em relação à guerra comercial com os Estados Unidos. Como discutimos em posts anteriores, a virada protecionista na política econômica dos Estados Unidos parecia ser uma marca registrada do governo Trump, mas a vitória de Biden não precisa necessariamente ser uma mudança nesse sentido. Pelo contrário, o novo presidente do país incluiu no seu programa eleitoral o plano "Made in America", um conjunto de medidas para dar prioridade aos produtos de fabricação nacional, o que pode continuar a alargar este conflito danoso.

Em suma, o futuro da economia chinesa é quase tão difícil de prever quanto a evolução da pandemia que, em apenas um ano, mudou o mundo. De qualquer forma, não há dúvida de que com alguns países em crise e outros em recuperação, com os planos de estímulos elaborados por inúmeros governos, bem como a mudança da Casa Branca e a saída do magnata Donald Trump, um novo panorama econômico se abre .em que o gigante asiático, como segunda maior economia do mundo, terá um papel decisivo.