As políticas monetárias funcionaram melhor do que as políticas fiscais durante a crise

Anonim

A crise global que afetou todo o mundo desde 2007 trouxe mudanças profundas. Países que pareciam caminhar indefinidamente no caminho da prosperidade acabaram imersos em recessão, enquanto outros, mesmo partindo de uma situação desvantajosa, aproveitaram a nova conjuntura econômica para fortalecer seu crescimento. Nas principais economias mundiais a gravidade da situação Abriu um debate sobre a aplicação de políticas de estímulo; monetários e fiscais. Portanto, para entender esse dilema que perdura até hoje, é preciso primeiro voltar à origem do problema.

O início da crise financeira de 2007 nos Estados Unidos rapidamente se traduziu no que conhecemos como crise de crédito: os maus resultados do setor financeiro geraram desconfiança nos bancos e logo o crédito deixou de circular na economia. Isso, por sua vez, levou a uma crise econômica generalizada no restante dos setores que trouxe recessão e desemprego, reduzindo as receitas do Estado e aumentando os gastos com benefícios e serviços sociais. IstoOs países afetados foram, portanto, confrontados com uma contração monetária que causou uma crise fiscal, aumentando enormemente seus déficits fiscais. Por isso, são estas as duas políticas (monetária e fiscal) a que os estados têm recorrido para combater os efeitos da crise e retomar o crescimento.

Na Europa e nos Estados Unidos houve desde o primeiro momento uma clara preferência pela expansão monetária. A primeira medida neste sentido foi uma redução acentuada das taxas de juro de referência (Federal Funds Rate nos Estados Unidos e Euribor na área do euro), o que tornou os empréstimos mais baratos e proporcionou alívio às famílias e empresas com elevado nível de endividamento, embora teve um sucesso muito mais limitado na recirculação do crédito na economia. Essas ações foram seguidas por outras, como a redução do índice de caixa ou as exigências de reservas bancárias e programas de injeção de liquidez. Embora os efeitos demorassem a se manifestar, esses fatores (somados ao processo de redução da dívida e à progressiva recuperação dos mercados) permitiam a retomada do crescimento e a geração de empregos, situação em que Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e os Estados Unidos se encontram atualmente.

Outros países optaram por políticas fiscais expansionistas (especialmente por meio de aumentos nos gastos públicos) como forma de estimular o consumo e o investimento e, assim, estimular a economia. É o caso do Japão até 2012 e da Espanha de 2008-2010 (o Plano E é um exemplo), que desenvolveram programas específicos de investimento público em obras de infraestrutura. Em ambos os países, o impacto sobre o crescimento e o emprego foi fraco e efêmero, embora tenha contribuído para o crescimento da dívida pública e agravado os problemas financeiros do Estado.

O Brasil, a sétima maior economia do mundo, deu um passo além. Após anos de intenso crescimento, o governo brasileiro optou por mitigar os efeitos da crise por meio planos ambiciosos de investimento em energia e infraestrutura. Embora inicialmente essas políticas tenham conseguido evitar a recessão, no longo prazo o déficit público e a inflação tornaram-se insustentáveis ​​e foi necessário implementar cortes de gastos que levaram a uma desaceleração do crescimento.

Ainda estavam países como Venezuela ou Argentina, apostando em uma intervenção mais intensa do setor público na economia, por meio da nacionalização de empresas e da concessão de subsídios aos mais diversos setores.

Novamente, e à semelhança da experiência brasileira, o crescimento e o emprego permaneceram estáveis ​​por vários anos, mas neste caso a magnitude dos gastos públicos (e a decisão dos governos argentino e venezuelano de financiá-los por meio da emissão de moeda) tornou a inflação insustentável níveis. O resultado final foram restrições aos movimentos de capitais e transações de câmbio que acabaram estrangulando o setor privado, condenando-o à recessão e à destruição de empregos.

Em conclusão, podemos afirmar que as políticas monetárias, apesar da lentidão no dinamismo da economia real, têm se mostrado mais sustentáveis ​​no longo prazo, permitindo o retorno à trajetória de crescimento e geração de empregos. Os países que optaram por políticas fiscais expansionistas, embora no início tenham obtido melhores resultados, tiveram que enfrentar sérios problemas de endividamento (Japão) ou inflação (Brasil). Assim, o que foi levantado anos atrás pelos economistas no campo teórico passa a ter uma base real, na esperança, acima de tudo, de que essas experiências sirvam no futuro para marcar o caminho da recuperação.