Cuba ainda não convence investidores

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Anonim

Apesar dos esforços do governo para estimular o investimento estrangeiro, ele cresce, mas permanece em níveis baixos. Por que os investidores internacionais continuam a desconfiar?

Cuba sempre foi um país dependente do investimento estrangeiro. Foi assim quando a Revolução Industrial chegou à ilha pelas mãos do capital espanhol nos últimos anos do período colonial, e continuou a fazê-lo ao longo do século 20 sob a influência econômica primeiro dos Estados Unidos e depois do Soviete União. Nos anos 90, sua economia sofreu os efeitos do isolamento causado pela queda do bloco comunista, mas o governo respondeu promovendo o turismo e permitindo a chegada de divisas. Já no século 21, Cuba conseguiu romper o isolamento graças à generosidade de um novo aliado no Caribe: a Venezuela. Você pode ver mais sobre o efeito do socialismo na economia cubana em nosso artigo «Luzes e sombras da economia cubana«.

Uma política pragmática: da aliança com a Venezuela à reaproximação com os Estados Unidos

Vinculado por fortes laços políticos, o governo presidido por Hugo Chávez aproveitou o controle estatal da petroleira PDVSA para enviar grandes quantidades de combustível a Cuba continuamente desde que assumiu o poder em 1999. Os embarques chegaram a 115.000 barris por dia em 2008, o dobro das necessidades reais da ilha. Desta forma, a ajuda venezuelana não só ajudou a garantir o abastecimento energético cubano, mas também representou um forte influxo de divisas, já que metade do petróleo recebido foi revendido nos mercados internacionais.

No entanto, a queda do preço do petróleo desde 2014 e os desequilíbrios internos da economia venezuelana logo tornaram essa ajuda insuficiente e Cuba se reencontrou, como no início dos anos 1990, isoladas e sem fontes monetárias. Desta vez, o recurso turístico já estava esgotado, por isso o governo procurou dar mais um passo na abertura econômica com a Lei 118 de Investimento Estrangeiro, um pacote de medidas destinadas a promover a entrada de capital estrangeiro. O acordo firmado com os Estados Unidos em 2014, que ameniza o embargo estabelecido em 1960, sem dúvida contribuiu para isso.

Quatro anos depois, a economia cubana parece ter retomado sua trajetória de crescimento, embora o investimento estrangeiro permaneça aquém do esperado, apesar das vantagens concedidas pelo governo. Vários fatores contribuem para isso, que discutiremos a seguir.

Por que os investimentos não vêm para Cuba?

O primeiro fator a levar em conta é o político, já que a morte de Fidel Castro não significou uma democratização do país, que continua a ser governado ditatorialmente por seu irmão Raúl (que por outro lado sempre se caracterizou por liderar o mais anti-capitalista do Castrismo). A continuidade pode ter sido atenuada com o tímido acordo firmado com os Estados Unidos, mas a chegada de Donald Trump à Casa Branca levanta dúvidas sobre a vontade do governo norte-americano de manter o que foi acertado. Esse motivo, somado ao anúncio das eleições de março deste ano, torna o fator político uma fonte de incertezas que desestimula os investidores internacionais.

O fator econômico, por sua vez, também não apresenta melhores perspectivas. Embora teoricamente a nova legislação cubana seja mais permissiva com o investimento estrangeiro, a verdade é que a economia como um todo continua profundamente interveio pelo Estado, limitar as oportunidades de negócios para os investidores. Ao mesmo tempo, a maioria dos projetos só pode ser realizada mediante planejamento prévio das autoridades e, em seguida, financiamento do capital privado, o que significa que qualquer iniciativa específica é suprimida.

Como já foi verificado em experiências semelhantes ao longo da história econômica, a centralização do empreendedorismo nas mãos do Estado pode levar a desvios de recursos para projetos ineficientes tanto por falta de informação quanto pela influência de fatores políticos na tomada de decisões. . Mas o problema não termina aí: mesmo que os investimentos acabem sendo lucrativos, o fortes restrições às saídas de capital torna difícil para os investidores estrangeiros desfrutarem dos benefícios gerados pelo dinheiro que eles próprios decidiram arriscar.

Por outro lado, embora Cuba tenha algumas vantagens como destino para as empresas que se deslocam, também padece de graves deficiências que não podem ficar de fora. Sua posição estratégica no Caribe (o que poderia melhorar significativamente a logística das empresas sediadas) é difícil de aproveitar devido ao lamentável estado das infra-estruturas. Há também uma escassez crônica de matéria-prima, o que certamente é um entrave à produção industrial. Quanto à força de trabalho, grande parte dela é destinada a empregos de baixa produtividade e o capital humano tem sido continuamente reduzido devido ao exílio de milhares de trabalhadores qualificados.

Todas essas dificuldades não impediram a chegada de novos investimentos à ilha desde a lei de 2014. Segundo dados avançados pelo governo cubano, o país recebeu cerca de 2.000 milhões de dólares em 2017, superando os 1.300 do ano anterior. Mesmo assim, os números ainda estão longe do esperado, uma vez que a maioria dos analistas estima em 2,5 mil a cifra anual necessária para manter o crescimento sustentado.

Entretanto, a economia cubana parece recuperar algum dinamismo com um crescimento de 1,6% em 2017 e com novos mercados, como as energias renováveis ​​ou as tecnologias de comunicação, que se expandem lentamente. As perspectivas são positivas, mas as eleições de março, sem dúvida, ainda pesam como um fator de incerteza. O certo é que, aconteça o que acontecer, os novos dirigentes do país terão de enfrentar um verdadeiro desafio econômico, o mesmo que todos os governos que passaram pela ilha desde sua independência da Espanha tentaram enfrentar: a eterna dependência do estrangeiro. capital.