A situação econômica no momento é definida por uma única palavra: incerteza. A recuperação econômica, à luz dos dados, mostra tantas luzes quanto sombras no horizonte.
No que diz respeito à conjuntura económica em geral, a excessiva incerteza que se põe no horizonte continua a impedir previsões fiáveis sobre as quais basear uma estratégia governamental. Considerando os indicadores econômicos, que dançam ao som dos contágios, assim como os surtos, que continuam ocorrendo em todo o planeta, os próprios economistas reconhecem a dificuldade de extrair cenários futuros, bem como fazê-lo com suficiente confiança, como se quisesse afirmam que esse cenário acabará se materializando.
Nesse sentido, o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos principais organismos econômicos do mundo, já alertou para a situação que estamos comentando. Pelas projeções, a economia mundial começaria a recuperar o dinamismo perdido no início do próximo ano. As previsões apresentadas no relatório de perspectivas para a economia mundial, recolhido na última atualização do relatório WEO, mostram um maior otimismo que, aliado à possibilidade de uma vacina, deixa um ambiente futuro mais próspero do que o que agora se apresenta.
Porém, da mesma forma que anuncia o otimismo, a organização alertou sobre os riscos que devem ser levados em consideração. Nesse sentido, a seção que recebeu esse nome mostrou outra realidade que, se cumprida, poderia colocar em apuros muitos líderes do planeta, bem como suas políticas. Bem, de acordo com a organização multilateral com sede em Washington DC, a incerteza em torno da projeção da linha de base é incomumente aguda. O prognóstico é baseado em fatores econômicos e de saúde pública que são inerentemente difíceis de prever.
Assim, a vacina, os surtos, a baixa demanda, os problemas internos dos países, entre uma série de outros fatores, desempenham um papel essencial na recuperação econômica. No entanto, esses fatores permanecem desconhecidos nos modelos que se propõem, pois, apesar de poderem aproximá-los, não são conhecidos com certeza suficiente para nos deixar levar por uma complacência que seria mais do que injustificada. E, tendo em conta a última publicação do referido relatório, as previsões do FMI, bem como o alerta, dissiparam a pandemia ao longo do segundo semestre; situação que, à luz dos dados que hoje conhecemos, não ocorreu.
Os riscos são confirmados
De acordo com os indicadores, tanto econômicos quanto não econômicos, começam a ocorrer os riscos que o Fundo Monetário Internacional avisa até agora. Esses fatores sobre os quais o organismo multilateral tanto insistiu estão começando a mostrar esse comportamento contemplado - não esperado - que buscou colocar as diferentes economias na corda bamba. Um comportamento que acarretaria em maior deterioração do conjunto das economias.
Nesse sentido, a partir da presença da COVID no planeta, a incidência acumulada da pandemia em todo o mundo começa a mostrar novas preocupações. Preocupações que até dão espaço a hipóteses, tão preocupantes quanto utópicas, de que possa ocorrer uma segunda onda de dimensões tão proeminentes quanto a primeira. Bem, conforme refletido nos dados a este respeito, continuamos a ver uma incidência que ameaça uma nova paralisia forçada da economia; tendo em conta os efeitos negativos desta situação em economias como a Espanha.
Por outro lado, no que se refere à demanda e à queda da atividade econômica, tomamos conhecimento nesta semana dos dados sobre a confiança do consumidor em países tão destacados como os Estados Unidos, ou em regiões econômicas tão importantes como a União Europeia. Nesse sentido, o que os indicadores de expectativas refletem é que a economia, apesar de não estar tão ruim quanto nos meses anteriores, mostra um desempenho pior após despertar muitos daqueles riscos que tanto temíamos. Por este motivo, as expectativas destes consumidores já incluem este pessimismo, tendo em conta, ainda, a eventual dissolução de uma campanha de Natal; aliás, essencial para a economia.
Do mesmo modo, esta situação tem provocado uma grande deterioração dos diferentes tecidos produtivos, encontrando-se esgotados para evitar, mais uma vez, os efeitos de um encerramento forçado da actividade económica. Ainda que assimétrico por território, os danos que a pandemia causou às empresas refletem-se nos níveis de atividade económica. E é que, inevitavelmente, temos grande parte de nossas economias, vinculadas a setores que exigem contato social e confiança para um desempenho ótimo. É o caso de setores como o turismo, que, representando 15% do produto interno bruto (PIB) mundial e sem capacidade para operar a plena capacidade, pode nos deixar com essa recuperação assimétrica, que alguns chamam de recuperação em a forma de um “K”. ”.
Tudo isso, levando-nos a uma situação em que, conforme mostram as projeções e indicadores a esse respeito, a economia pode sofrer uma piora maior do que a esperada durante o quarto trimestre, levando-nos a registrar uma contração maior do que a esperada no final do o ano. Nesse sentido, uma deterioração que poderia ser amenizada com o único evento otimista que encontramos até hoje: a vacina. Mas que, tendo em conta que estamos a falar de um processo de vacinação muito longo, e que não conhecemos a eficácia da referida vacina na sua totalidade, não poderia ser aquele tampão em que confiamos, como a Europa aos fundos europeus, o recuperação econômica.
Riscos passados, mas presentes
Conforme analisamos, a situação econômica do planeta é bastante incerta. Os riscos de que falou o FMI, assim como os expostos por outras instituições como a OCDE, mantêm dirigentes, assim como economistas, em suspense em todo o planeta. Como mencionamos, a incapacidade de projetar bem essas variáveis, em um cenário em que controlar a pandemia não é uma opção, deixa um futuro tão cheio de luzes quanto de sombras.
E é porque, a esses riscos que mencionamos, devemos agregar outros riscos que, da mesma forma, aparecem no horizonte e devem ser resolvidos. Nesse sentido, fala-se em recuperar os danos registrados durante e derivados da pandemia; o objetivo dessas políticas é recuperar o patamar inicial que as economias apresentavam. No entanto, mal paramos para analisar se o nível de partida a que nos referimos era o correto, ou como o atual, também precisava de reformas.
Nesse sentido, a questão, levando em consideração os indicadores, nos leva a optar mais pela segunda opção - a das reformas - do que pela primeira. Pois bem, à medida que estes refletem, estamos a falar de muitos riscos que, tais como elevados níveis de dívida pública; o Brexit; desastres naturais na América Latina e América Central; o declínio demográfico europeu e a insustentabilidade da população; a incapacidade de recuperação do setor de turismo e, em parte, do setor de serviços; a guerra comercial, assim como outros eventos, continuam a colocar em risco o futuro da nossa economia.
Todos esses riscos, da mesma forma, foram evidenciados em 2019. Bem, mesmo a desaceleração econômica sincronizada, como o próprio FMI se referiu, passou despercebida com a chegada da pandemia. A COVID, assim como os efeitos dela derivados, eliminou outros temas da agenda pública que, sendo muito negativos para a economia, hoje são uma referência aos quais voltar. E é que, por melhor que fosse essa situação em relação à atual, devemos saber que o menos ruim nem sempre é o melhor.
Em suma, estamos falando de acontecimentos que, sem a possibilidade de se tornarem um cisne negro, a inação e a falta de consenso na ação política poderiam fazer com que essa impossibilidade se materializasse. Ou seja, que ditos riscos se manifestam e ocorrem; enquanto continuamos a adiar reformas que os economistas, ano após ano, lembram, mas que para a classe política, independentemente de suas ideias e para favorecer seus interesses mais próximos, bem como o eleitoralismo, não exigem tanta urgência; sim, com claras repercussões nas sociedades futuras.