A lei da bicicleta é um termo econômico que se refere à interação entre os mercados de bens e dinheiro em uma economia aberta. Em Economy-Wiki.com, já escrevemos um artigo sobre esta lei na Argentina. No entanto, dado o interesse que despertou, decidimos explicá-lo de uma forma muito mais geral.
De acordo com essa premissa, uma intervenção dos bancos centrais para manipular o preço das moedas teria, por sua vez, um forte impacto colateral nos mercados reais, constituindo assim uma regulação indireta do preço dos bens. Por outro lado, o estabelecimento de regulamentações no mercado interno também pode causar distorções nos mercados que acabam impactando o preço da moeda nacional, ainda que oficialmente gratuita.
A lei deve seu nome ao paralelismo entre uma economia aberta e uma bicicleta, cujas duas rodas seriam o mercado de mercadorias e o mercado de dinheiro. A razão é que para parar esses veículos basta travar uma das rodas e a outra pára mesmo que nada o impeça de rodar livremente. Da mesma forma, a introdução de regulamentação em um dos mercados condicionará de forma decisiva o funcionamento do outro.
A novidade da lei da bicicleta
A principal novidade proporcionada por essa premissa é que, embora a escola de economia clássica tenha considerado que um mercado é livre se simplesmente não houver intervenções diretas sobre ele, a lei da bicicleta mostra que essa condição não é suficiente.
Neste sentido, vai mais longe e define a intervenção de outros mercados como mais um condicionante, pelo que essas limitações não deveriam existir para que um mercado fosse genuinamente livre.
O modelo IS-LM e a lei da bicicleta
O raciocínio teórico por trás da lei da bicicleta é baseado no modelo IS-LM, que estabelece uma certa relação para os pontos de equilíbrio nos mercados de bens e dinheiro.
Como podemos ver em qualquer simulação seguindo esse modelo, o estabelecimento de uma taxa de câmbio artificialmente elevada aumentaria o poder de compra dos saldos monetários existentes no exterior, ao diminuir o preço dos bens importados. Consequentemente, os bens nacionais devem competir com outros cujos preços serão indiretamente regulados, uma vez que seu valor em moeda local será sempre inferior ao que o mercado marcaria em condições normais.
Sob essa suposição, nos encontraríamos diante de um mercado de câmbio estrangeiro com intervenção direta e outro profundamente distorcido pela regulação estatal, embora isso oficialmente se aplique apenas a um deles.
Da mesma forma, uma lei que reduza os preços de certos bens no mercado interno reduzirá a lucratividade dos empresários do país e os incentivará a vender uma proporção maior de sua produção no exterior (se forem matérias-primas adicionais). Ágios ou bens intermediários , efeito semelhante será produzido nos bens finais, pois estes são mais competitivos graças à redução dos custos de produção). O resultado seria um boom nas exportações, o que teria impacto no balanço de pagamentos e faria subir o preço da moeda.
Nesse caso, poderíamos afirmar que o mercado de mercadorias seria diretamente intervencionado, mas o mercado de câmbio também não poderia operar livremente, estando sujeito a constantes pressões dos movimentos artificiais da balança comercial.
A lei da bicicleta na história econômica recente
Um dos exemplos mais próximos de controlar o mercado de câmbio enquanto liberaliza o mercado de bens é a lei de conversibilidade aplicada na Argentina na década de 1990. Durante esse período, o Banco Central adotou o dólar como moeda âncora e garantiu uma taxa de câmbio de 1: 1 com respeito ao peso argentino.
Embora a medida tenha proporcionado uma estabilidade cambial significativa que fomentou o investimento estrangeiro graças à qual a economia do país pôde se modernizar, no longo prazo o efeito sobre a oferta agregada de bens foi negativo, pois a produção nacional foi perdendo competitividade (tanto no mercado interno). como no exterior) e os desembolsos de dólares que o Banco Central precisava fazer para manter a taxa de câmbio artificialmente elevada tornaram-se cada vez mais elevados.
Quando a perda de reservas e o nível de endividamento externo eram insustentáveis, as autoridades não tiveram escolha a não ser revogar a lei da conversibilidade, iniciando assim a instabilidade financeira que levaria ao corralito e mergulharia a Argentina em uma profunda crise econômica.
O caso de Bretton Woods
Por outro lado, a história também tem muitos exemplos, especialmente na década de 1970, na esteira do colapso do sistema de Bretton Woods e da crise do petróleo. Um dos casos mais conhecidos é o dos Estados Unidos, cujo governo optou pela regulação de preços e salários ao mesmo tempo que permitia a livre flutuação do dólar.
A intenção não era outra senão proteger o poder de compra dos cidadãos dos estragos causados por uma inflação já de dois dígitos, mas a verdade é que o aumento dos salários acabou provocando um aumento excessivo do fator trabalho, o que resultou numa perda de competitividade das exportações, aumentou o déficit comercial e, portanto, quedas no preço do dólar.
Dessa forma, o mercado de câmbio manteve um funcionamento oficialmente livre, mas na realidade foi fortemente regulado pela evolução dos preços e salários.
Conclusão da lei da bicicleta
A principal conclusão da lei das bicicletas é que qualquer intervenção no mercado de bens acaba gerando distorções no mercado de câmbio e vice-versa. Esta premissa permitir-nos-ia dizer que um dos dois mercados sofre intervenção mesmo quando não existe regulamentação directa sobre ele, mas sim sobre o outro.
Portanto, a melhor forma de garantir o funcionamento ótimo de uma economia é que seus dois grandes mercados operem com total liberdade, assim como para fazer uma bicicleta andar é necessário que ambas as rodas girem livremente. No entanto, tudo está dito, não devemos esquecer que nem tudo se baseia no funcionamento ótimo da economia. Às vezes, as regulações dos mercados são feitas com o objetivo de melhorar o bem-estar social, mesmo que não sejam eficientes do ponto de vista econômico.