Que repercussões econômicas teria um Brexit difícil?

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Anonim

Os dias vão passando e aproxima-se 31 de outubro, prazo para a Grã-Bretanha deixar a União Europeia. Tudo parece indicar que, com Boris Johnson como primeiro-ministro, haverá um Brexit difícil, uma saída sem acordo do Reino Unido. Mas quais serão as consequências econômicas?

Vamos começar explicando em que consiste um Brexit rígido. Bem, deixar a União Europeia sem um acordo significaria estar fora da União Europeia imediatamente em 1 ° de novembro. Assim, o Reino Unido deixaria de fazer parte de dois elementos-chave da União Europeia: o Mercado Comum e a União Aduaneira.

Os britânicos também abandonariam imediatamente as agências de cooperação judiciária e policial, sem esquecer que não teriam mais a obrigação de contribuir com cerca de 11,2 bilhões de dólares para os orçamentos europeus. Também não devemos esquecer que encontraríamos obstáculos maiores em termos de movimento de pessoas.

Os efeitos de um Brexit sem acordo afetariam não apenas a Grã-Bretanha, mas toda a União Europeia. Entre muitas das repercussões que podem ocorrer estão a contração do produto interno bruto, o estabelecimento de tarifas, a queda da libra e o aumento do desemprego. Então, vamos analisar cada um dos possíveis efeitos.

Queda do PIB e queda do comércio

Um no-deal Brexit acabaria causando uma grande queda no Produto Interno Bruto (PIB) britânico estimado em 5,5%. Sem dúvida, seria uma grande desaceleração da economia do Reino Unido. A Grã-Bretanha, fora do mercado comum, teria de pagar tarifas pelos tão necessários produtos agroalimentares e os preços dos alimentos seriam aumentados, o que poderia se refletir em um aumento da inflação de 5%. Não apenas os preços subiriam, mas, diante de importações de alimentos mais caras, o Reino Unido poderia enfrentar problemas de abastecimento.

Com a Grã-Bretanha fora do quadro da União Europeia, diria adeus à livre circulação de mercadorias e pessoas. Isso significaria que as relações comerciais com a Grã-Bretanha seriam regidas pelas regras da Organização Mundial do Comércio, tendo que enfrentar tarifas e fiscalizações alfandegárias.

Além disso, o Reino Unido pode causar a perda de dois milhões de empregos nos EUA. O país norte-americano aproveita as condições para entrar no mercado europeu. Em outras palavras, o Reino Unido atua como um portal. No caso de um Brexit difícil, os Estados Unidos deixariam de entrar nessa rota.

Setores mais afetados

Não só o Reino Unido seria o único país a perder, porque com as importações ficando mais caras e os obstáculos administrativos na alfândega, a Espanha seria um dos grandes perdedores. Prova disso é que o Reino Unido é o terceiro maior mercado de exportação de produtos espanhóis. Entre os setores mais afetados pelo Brexit estariam o turismo, empresas do setor agroalimentar e empresas industriais.

Vamos especificar como isso afetaria os setores mais afetados. Bem, no caso do carro, as autoridades britânicas estariam considerando um aumento nas tarifas para proteger a produção nacional no caso de um Brexit rígido.

O turismo é também um setor fundamental nas relações comerciais com a Grã-Bretanha, já que este tipo de serviços turísticos representa 32% das exportações espanholas para o Reino Unido. E, com a perda de valor da libra, os turistas britânicos veriam seu poder aquisitivo cair, desacelerando seu consumo nas áreas de destino, como ocorreria na Espanha. Tudo isso significaria um retrocesso para a economia espanhola, onde o turismo se consolidou como o setor econômico mais importante.

A queda da libra

Não é novidade que o Brexit prejudicou a libra esterlina. Na verdade, isso vem acontecendo desde junho de 2016, quando os britânicos deram luz verde para deixar a União Europeia por meio de um referendo. Desde então, a libra caiu 15%. No entanto, com um rompimento sem acordo, essa tendência pode piorar. E é que, as empresas estrangeiras que desenvolvem os seus negócios em território britânico veriam cair os possíveis lucros a serem repatriados em euros. Nesse sentido, as empresas mais afetadas seriam as empresas dos setores de construção e hotelaria, uma vez que recebem seus rendimentos em libras.

Embora, se olharmos de outra perspectiva, é possível que a desvalorização da libra esteja descontando um Brexit rígido. O que isto significa? Da mesma forma, se esse cenário ocorrer, já que é descontado, a libra não continuaria caindo por muito tempo.

Aumento do desemprego

Uma das consequências da redução dos fluxos comerciais e da queda do PIB é o aumento do desemprego. Tome como referência um estudo da Universidade Católica de Leuven, que estima que 1,7 milhão de empregos seriam destruídos na Europa. Entre os mais afetados estariam os britânicos com a perda de mais de meio milhão de empregos, seguidos pela Alemanha com 291.000 empregos destruídos e em terceiro lugar a França, que perderia mais de 140.000 empregos. Se, ao contrário, se chegasse a um acordo com um Brexit menos abrupto, deixando claro quais seriam as relações econômicas com a União Européia, a perda de empregos seria muito menor tanto na Europa quanto no Reino Unido.

Um espaço aéreo colapsado

Outra consequência que vale a pena mencionar e não frequentemente citada é o colapso do espaço aéreo. Para uma companhia aérea decolar em uma cidade da comunidade e pousar em outra cidade também da União Europeia, ela precisa de uma licença. Esta licença, concedida pela UE, tem vários requisitos. Entre eles, que a maior parte do capital da empresa está no espaço europeu.

Isto significa que, para realizar voos intra-europeus, a companhia deve ser europeia por lei. A saída do Reino Unido faria, portanto, com que empresas como a Iberia, a Vueling ou a British Airways (com capital britânico e o grupo IAG) abandonassem as suas rotas intracomunitárias. Ou seja, se você quiser viajar com a Iberia de Madrid a Barcelona, ​​o avião deve ir de Madrid a uma cidade britânica e depois da cidade britânica a Barcelona.

Isso pode significar, por um lado, um desastre financeiro para essas empresas e, por outro, uma redução na oferta de voos. E, portanto, um aumento em seus preços. E não é pouca coisa, o grupo a que pertencem a Iberia, Vueling e British Airways (IAG) transportou cerca de 100 milhões de passageiros em voos intracomunitários durante 2018.