COVID-19: O fim do made in China?

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Anonim

Muitas são as reflexões que devem ser feitas após a crise de saúde do Coronavirus. Entre eles, deve-se considerar a dependência da China como “fábrica mundial” e um grande fornecedor global. Haverá realocação industrial após a pandemia?

Em muitas ocasiões, a China foi chamada de "a fábrica do mundo". Tudo isso devido à grande presença de seus produtos em todo o mundo e em muitos aspectos do nosso dia a dia. Roupas, computadores, telefones celulares e brinquedos são apenas alguns exemplos.

Por que a China se tornou a "fábrica do mundo"?

A China tem sido um destino atraente para muitas empresas. Os baixos custos de mão-de-obra e de produção, bem como o desenvolvimento dos transportes e, consequentemente, a globalização, motivaram muitas empresas a instalarem os seus centros produtivos na China. Esse processo teve início na década de 80, tendo seu pico nas décadas de 90 e 2000.

Um fator decisivo na decisão de transferir a produção para a China foram os salários. Com mão de obra muito mais barata do que nos países ocidentais e menos direitos trabalhistas, os baixos salários na China possibilitaram compensar os custos de transporte de mercadorias. No entanto, essa vantagem bem conhecida foi questionada como resultado da disseminação do Coronavírus.

Os problemas de depender de um único fornecedor

A dependência de um único grande fornecedor como a China tem causado problemas no abastecimento de suprimentos médicos (exames, máscaras, equipamentos de proteção e respiradores, entre outros). Nas economias dos países desenvolvidos, o setor terciário ou setor de serviços tem cada vez mais peso, enquanto a indústria vai perdendo peso na economia. No entanto, a rápida disseminação de um vírus como o COVID-19 fez com que muitos países repensassem seu modelo econômico. E é isso, uma indústria forte é essencial para poder ter o material necessário para enfrentar uma pandemia dessa magnitude.

Por isso, considera-se realocar a produção, diversificando-a ou fazendo-a retornar aos países de origem. Isso significa que estamos participando dos últimos capítulos do famoso "made in China"?

A realocação da produção não é um fenômeno que começou com a eclosão da pandemia COVID-19. A guerra comercial entre Estados Unidos e China, com aumento das barreiras tarifárias, estava levando muitas empresas a retornar aos seus países de origem ou a se deslocarem para países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, produzir na China não era mais tão barato, pois os salários dos trabalhadores chineses estavam crescendo.

A ideia de que produzir na China era barato parecia estar desaparecendo. Prova disso é que a China estava realocando sua própria produção. Isso significa que apenas uma pequena parte dos produtos vendidos pela China foi feita em solo chinês.

Qualidade versus preço

Com esse cenário, que busca reduzir a dependência de um único fornecedor, as empresas já planejam movimentações para outras áreas geográficas. As opções são deslocar os centros de produção para países vizinhos com menor custo de mão de obra ou devolver a produção ao país de origem.

É verdade que a China é capaz de produzir em grandes volumes e em alta velocidade. No entanto, a produção nos países europeus tende a ser de qualidade superior, apesar dos custos de mão de obra mais elevados. Por outro lado, esses custos de mão de obra só aumentariam em empresas que exigem uso extensivo de mão de obra. Assim, se encontrarmos empresas nas quais a tecnologia é o fator chave da produção, o problema dos custos da mão de obra estaria resolvido.

A decisão final na compra de produtos nacionais ou chineses caberia aos consumidores. Caberia a eles escolher entre produtos de qualidade e mais ecologicamente corretos ou a preços mais acessíveis, já que a China tentará manter sua produção com baixos custos salariais.

Cenários futuros

Um fator a levar em consideração é o tempo que leva para realocar uma indústria. Abrir uma fábrica é um investimento de longo prazo que deve ser lucrativo. Portanto, se os centros de produção fossem realocados, não haveria um desmantelamento rápido das fábricas localizadas na China.

Não há dúvida de que, devido ao tamanho de sua população e ao seu poderio industrial e comercial, a China continuará sendo uma grande potência econômica. No entanto, a pandemia de COVID-19 e o aumento do protecionismo podem acabar afetando sua economia.

É mais do que provável que muitos governos, diante da crise econômica e do desemprego causado pela pandemia, incentivem as empresas a retornar sua produção ao território nacional para fortalecer a indústria nacional que lhes permita reduzir a dependência da China.

Por fim, outra desvantagem que ameaça a China é a necessidade de fechar a produção. Se as fábricas não retornarem ao país de origem, podem estar localizadas em países próximos. E o fato é que os consumidores estão exigindo produtos cada vez mais rapidamente. Esta é uma grande desvantagem para fábricas distantes localizadas na China. Por isso, apesar do grande desenvolvimento da logística mundial, é conveniente ter fábricas próximas, o que permite que os produtos sejam colocados à disposição do mercado com grande agilidade.