A economia de 90%: o novo normal

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A economia de 90%: o novo normal
A economia de 90%: o novo normal
Anonim

A economia só vai se recuperar quando o vírus for extinto. Controlar e direcionar o comportamento de um vírus tão contagioso é um erro que afetará a economia.

Desde o início da pandemia, muitas hipóteses têm sido geradas sobre como será a recuperação da economia em nível global, enquanto outras questões têm sido levantadas sobre como as diferentes economias se comportarão nessa recuperação, bem como a diferentes períodos em que a economia, levando em consideração todos os países que compõem o planeta, estará totalmente recuperada. Para isso, apresentando níveis como aqueles que, em momentos anteriores à pandemia, apresentavam as diferentes economias do planeta.

Entre esses cenários, encontram-se inclusive alguns contrafactuais que abrem espaço para novos estudos sobre como fortalecer diferentes economias, que sofrem de problemas estruturais que dificultam sua recuperação, de modo a torná-las mais resilientes para o futuro. Um futuro onde novos cenários recessivos podem continuar a danificar e reabrir as feridas que tanto prejudicam essas economias. No entanto, a incerteza que cerca a situação hoje, e apesar do número de hipóteses levantadas e da ação de especialistas, torna difícil fazer previsões com um certo grau de confiança.

Em um artigo que escrevemos no Economy-Wiki.com (É possível prever crises e recessões?) Há alguns meses, aludimos às previsões, bem como à precisão dessas previsões. Para isso, tomamos uma amostra das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), analisando em quais situações a organização acertou suas projeções. Com base nos dados que coletamos, entre 1991 e 2016 o FMI previu corretamente 47 recessões em uma amostra de 117 países. Em contraste com este número, houve na verdade 313 recessões. Esses cálculos nos levam à conclusão de que apenas 15% das vezes o FMI acertou em suas previsões.

Como podemos perceber, tanto analistas quanto especialistas da área que buscam lançar luz sobre o assunto se deparam com uma situação em que, como mostra o artigo citado, em consonância com o que alguns economistas acadêmicos do portal Nothing is Free , onde afirmaram a dificuldade de projetar variáveis, em um cenário tão incerto, a mais de duas semanas de distância, fazer projeções de recuperação com bastante confiança é uma missão impossível.

A economia de 90%

Pelas projeções apresentadas, a economia pode começar a recuperar o dinamismo no próximo ano fiscal. As projeções citadas até o momento concluem-se com uma recuperação da economia que se iniciará, conforme divulgado pelo FMI, no terceiro trimestre do ano. A situação que viveu a economia durante o segundo trimestre, num cenário em que as medidas de contenção do vírus forçaram a paralisação da economia, fez com que, praticamente, todas as economias que compõem o planeta sofressem contrações nos respetivos PIBs que eles não atendem a precedentes em suas recentes séries históricas.

Porém, a dissipação de medidas de distanciamento social, no sentido de favorecer a reativação econômica e, com ela, a recuperação, têm permitido a reabertura de indústria, comércio, bem como de outros setores que estavam paralisados, permitindo, por sua vez, que essa situação ocorresse. e vemos um maior dinamismo da economia naquele penúltimo trimestre do ano. No entanto, as incertezas que mencionamos, e que se escondem no horizonte com grande probabilidade de que esse evento não aconteça como o esperado, continuam a dificultar o caminho para essas economias.

A primeira onda de Covid, como sabemos, obrigou o conjunto de economias a adotar medidas preventivas que provocaram, diante da paralisação, um drástico choque de oferta na economia global; o que, como veremos e para determinados setores, acabou se transformando em um choque de demanda. Graças a isso, e com o sacrifício que essas medidas implicam para a economia, bem como para todos os agentes que nela operavam, o vírus conseguiu conter-se, permitindo assim a sua reabertura. No entanto, essa possibilidade de novos surtos, que ninguém ousa descartar nas projeções que mencionamos anteriormente, pode até acabar com aquela reativação que a economia deve registrar ao longo do terceiro trimestre. E, como veremos agora, estamos falando de uma recuperação muito assimétrica.

Por mais que tentemos conviver com o vírus, é bem possível que isso não seja possível. Como podemos perceber, a economia não reage bem à convivência com o vírus e, apesar de conseguir reabrir a indústria, muitos outros setores, à luz dos dados, continuam a mostrar aquelas fragilidades internas que, se essa situação se perpetuar , pode se tornar estrutural. Tanto é que, de acordo com os números da Organização Mundial do Turismo (OMT) em suas projeções, o turismo, por exemplo, pode não recuperar os níveis anteriores até 2024.

Nesse sentido, a revista The Economist deu um nome para essa economia que se apresenta entre nós hoje, uma economia que a revista chamou "A economia de 90%". Isso porque, como vemos, a recuperação está sendo totalmente assimétrica. Muitos setores, devido a essa proximidade e à ameaça do vírus, não têm expectativa de recuperação nos próximos anos. Levando em consideração que esses setores, com destaque para o turismo, têm grande peso no PIB mundial. Pois bem, levando em consideração uma contribuição de 10,4% para o PIB mundial do setor de turismo, devemos estar cientes de que, sem este setor, não podemos falar em recuperação econômica total.

Mudanças no modelo de produção?

Com a chegada da pandemia, outro dos mecanismos que se ativaram, pelo menos nas principais economias do planeta, foram os mecanismos anticíclicos que, por meio de políticas econômicas expansionistas e da mobilização de recursos, permitiram que a economia amortecesse o golpe. . Isso pode ser observado, por exemplo, no menor acoplamento experimentado pelos países em termos de queda do PIB e destruição de empregos.

Porém, por não serem mais do que medidas para amortecer o golpe, muitos dos setores que exigem proximidade e não encontram recuperação nos indicadores que são coletados, estão levando as empresas que atuam neste setor a terem que extinguir empregos ou encerrar seus negócios. negócios. Não podendo, desta forma, utilizar estas medidas temporárias face à extrema incerteza que ocorre, bem como aquela impossibilidade de saber com certeza quando a normalidade anterior se recuperaria.

A economia de 90% é um fato que só encontrará consolo na extinção da maior ameaça conhecida até hoje: o vírus. Se o vírus não se dissipar, a recuperação econômica é uma utopia que, nem mesmo na cabeça dos economistas mais otimistas do planeta, poderia se materializar de maneira adequada. Pois é, às vezes tentamos insistir em conviver com um vírus que, por exemplo, não permite a convivência com a economia.