O Estado Providência desde as suas origens

Anonim

Hoje, o estado de bem-estar é um elemento indispensável nos países desenvolvidos. Através deste mecanismo, o Estado intervém procurando promover uma distribuição mais justa da riqueza, prestando serviços básicos como saúde e educação e garantindo um certo nível de proteção social aos grupos mais desfavorecidos. Mas como essa conquista social foi alcançada nos países desenvolvidos?

Se pensarmos na revolução industrial, talvez em nossa mente sejam recriadas as imagens de uma Londres com as águas do Tamisa enegrecidas e um ar irrespirável, saturado pela poluição que emana das fábricas. Precisamente, o século 19 pode ser um bom ponto de partida para explicar a origem do Estado de bem-estar. Naquela época, o sufrágio era restrito e os principais objetivos econômicos eram a estabilidade monetária e de preços. Como na economia de hoje, houve ciclos de alta e baixa.

Os tempos de recessão foram particularmente difíceis para os trabalhadores, pois perderam seus empregos quando as empresas faliram e aqueles que não estavam condenados ao desemprego viram seus salários reduzidos. No entanto, a classe trabalhadora aos poucos foi ganhando peso na sociedade por meio dos movimentos trabalhistas e com o fim da Primeira Guerra Mundial, o modelo econômico do século 19 entrou em declínio.

Nesse sentido, as propostas do famoso Keynes foram uma lufada de ar fresco, já que este economista apostou em políticas de aumento dos gastos públicos nos estágios de recessão, que incluíam também gastos sociais para os mais afetados pela crise. Por sua vez, a democracia avançava e o sufrágio universal se espalhava. O estado assumiu um papel mais ativo na economia, fornecendo seguro-desemprego e combatendo a pobreza.

No entanto, é justamente após a Segunda Guerra Mundial que o chamado “estado de bem-estar” se consolidará. Com os Estados Unidos como principal potência econômica mundial, foi implantado o "American way of life", modelo em sintonia com o estado de bem-estar.

Estes foram tempos agradáveis ​​para a economia. A guerra se foi, o dólar substituiu a libra esterlina como moeda de reserva, o comércio internacional estava em alta com a criação do Fundo Monetário Internacional e a assinatura do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). A produtividade melhorou e os salários aumentaram à medida que o progresso técnico avançava. Por sua vez, os governos ocidentais permaneceram comprometidos com políticas que permitiram uma distribuição de renda mais eqüitativa.

Assim, o estado de bem-estar foi caracterizado, entre outras coisas, por:

  • A nacionalização de alguns setores, como aconteceu no Reino Unido e na França com as ferrovias.
  • Um certo nível de planejamento da economia, em um nível indicativo, não por imposição como em países com economias centralmente planejadas.
  • Maior gasto com infraestrutura. As obras públicas passaram a ser o principal protagonista, pelo que o Estado teve de se encarregar das empresas que não se sentiam atraídas pelos elevados custos deste tipo de obras.
  • Benefícios sociais melhorados: seguro-desemprego e benefícios por invalidez e aposentadoria. O estado atuou como provedor de dois pilares básicos do estado de bem-estar: saúde e educação.

Através deste conjunto de medidas, em períodos de recessão, o Estado estabeleceu uma certa rede de protecção aos cidadãos, desta forma, os estragos das crises económicas eram menos dolorosos para a população e em particular, para os grupos mais vulneráveis. economicamente.

No entanto, a chegada da crise do petróleo de 1973 causou profundos danos ao estado de bem-estar. A inflação e o desemprego aumentaram. Apesar das políticas públicas para conter as altas taxas de desemprego, o desemprego continuou a aumentar. Nesse contexto, começou a ser aplicada a tese de Friedman, que propunha a estabilização monetária apesar do aumento do desemprego. Para combater a inflação, segundo Friedman, era necessário desmantelar alguns aspectos do estado de bem-estar.

E o fato é que o welfare state envolve maior gasto público, o que provoca aumento do déficit nas contas públicas e pode contribuir para o aumento da inflação. É por isso que muitos cidadãos começaram a duvidar do Estado como gestor de empresas públicas e prestador de serviços.

Na década de 1980, a ascensão de Margaret Thatcher ao poder no Reino Unido e a presidência de Ronald Reagan nos Estados Unidos levaram a cortes significativos nas políticas sociais e no Estado de bem-estar. O diálogo entre empresas e trabalhadores foi rompido e a insegurança no emprego aumentou. Por outro lado, houve reduções de impostos diretos e impostos indiretos como o IVA foram estabelecidos.

Mais uma vez, na década de 1990, o estado de bem-estar social foi ameaçado. As taxas de natalidade nos países desenvolvidos caíram. Não havia população suficiente para pagar as aposentadorias, embora de certa forma esse problema tenha sido resolvido graças à maior incorporação das mulheres ao mundo do trabalho e ao fenômeno da imigração.

Nos últimos anos, vale a pena destacar também as iniciativas realizadas a partir da União Europeia. Nesta linha estão os Fundos Estruturais de Desenvolvimento Regional (FEDER), que são responsáveis ​​por reduzir as diferenças entre as diferentes regiões europeias, atribuindo recursos a áreas como as infraestruturas, a saúde, a investigação e a educação. Por sua vez, o Fundo Social Europeu também contribuiu para o financiamento da formação e da educação. Estes fundos europeus conseguiram reduzir as diferenças entre as regiões mais desenvolvidas e as menos desenvolvidas, mas não conseguiram eliminá-las completamente.

Atualmente, as tendências da economia são marcadas pelo controle do déficit público e da inflação, com o Estado de bem-estar em segundo plano. Porém, a chamada “sociedade de bem-estar” está sendo exigida, ou seja, o envolvimento não só do Estado, mas também dos cidadãos e de todas as instituições para levar bem-estar a toda a nação. A extensão do estado de bem-estar para além dos países desenvolvidos também é promovida, embora as diferenças entre as economias mais dinâmicas e o Terceiro Mundo continuem a aumentar. Outro grande obstáculo à implementação do estado de bem-estar nos países menos desenvolvidos é que, para realizá-lo, é necessária prosperidade econômica.

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