Bancário completamente transformado desde a crise, continuará a se reconfigurar

Anonim

Em 24 de maio, o presidente do BBVA, Francisco González, disse ao Instituto de Finanças Internacionais que "as taxas negativas estão matando os bancos". Estas afirmações enquadram-se num contexto económico complexo, com um Banco Central Europeu a tentar revitalizar a economia europeia com políticas de expansão monetária cada vez mais agressivas, chegando a colocar as taxas de juro reais em valores negativos.

Enquanto se espera para ver as consequências destas medidas na economia real (uma vez que o crescimento e a criação de empregos ainda são fracos e a área do euro ainda se encontra à beira da deflação), o que é claro é que resultados bancários têm sido prejudicados pela queda das taxas de jurosApós oito anos de crise, nenhuma das grandes entidades espanholas conseguiu atingir os níveis de lucro anteriores a 2007. No entanto, pode-se questionar se a política monetária é a única responsável pela nova situação.

Em todo o caso, não há dúvida de que o setor financeiro (e principalmente o setor bancário) tem sido afetado por profundas mudanças na economia que não só afetam seus resultados atualmente, mas também o obrigam a se reinventar para que as entidades possam se manter competitivas no. o futuro.

Felizmente para o setor, podemos dizer que o único fator intrinsecamente negativo (o mínimo histórico das taxas de juros) também é temporário: afinal, o preço do dinheiro flutua de acordo com os ciclos econômicos e as condições do sistema monetário, e se Desde o início da crise, as taxas não pararam de cair e, no futuro, tenderão a se recuperar. É verdade que esta revisão em alta está atrasada devido à lenta recuperação e ao risco de deflação no caso da área do euro, mas a longo prazo é que as taxas voltem a subir (nos Estados Unidos, aliás, já estão fazendo isso).

Por outro lado, a evolução do mercado monetário desde 2007 parece confirmar a máxima keynesiana de proporcionalidade inversa entre mercados de renda fixa e taxas de juros. Em outras palavras, com a queda das taxas de referência, o preço dos títulos subiu, já que a rentabilidade que ofereciam era cada vez mais difícil de encontrar no mercado. Por outro lado, essa escalada de preços no mercado de renda fixa está fazendo com que muitos investidores se voltem para as ações, o que tem causado uma alta nas bolsas. De facto, os dados entre 2007 e 2016 mostram que a queda das taxas de juro coincidiu com a subida dos índices da bolsa, tanto na Europa (FTSE 100) como nos Estados Unidos (S&P 500).

O que mais, a facilidade de financiamento oferecida pelos bancos centrais reduz a dependência das instituições dos recursos que recebem de seus clientes, permitindo-lhes oferecer taxas mais baixas para depósitos. Desta forma, os pequenos poupadores viram o retorno que recebem por suas economias reduzido, e não são poucos os que já exigem produtos alternativos de poupança. Por isso, desde o início da crise, os bancos passaram a oferecer um leque mais amplo de alternativas aos seus clientes, principalmente com produtos que, em maior ou menor medida, são orientados para o retorno de ações ou renda fixa corporativa. De qualquer forma, aos poucos vai ganhando espaço entre os pequenos poupadores a ideia de que é preciso arriscar mais para obter rentabilidade, axioma que está entre os princípios mais básicos do investimento, mas que muitos esqueceram durante os anos de altas taxas de juros .

O segundo fator é o novo marco regulatório bancário, redesenhado pelas economias mais desenvolvidas com o objetivo de garantir a solvência dos bancos, protegendo-os dos riscos derivados da volatilidade do mercado e evitando os graves problemas que acabaram por afetar as entidades em decorrência da Crise de 2007. Em praticamente todos os casos o novo regulamento resultou em aumentos forçados nas provisões depósitos em bancos centrais, bem como limites de endividamento em relação ao capital social. Por sua vez, a obrigação de provisionar montantes crescentes de capital teve um impacto significativo nos lucros, arrastando para o vermelho as demonstrações de resultados de muitas entidades.

O terceiro fator talvez seja mais difícil de definir, pois segue um processo mais longo e complexo, e é a nova postura da própria sociedade em relação ao setor financeiro. As alterações a este respeito são muito variadas, indo desde os novos serviços exigidos pelos clientes (como a maior acessibilidade online ou os já mencionados produtos mistos para pequenas poupanças) até à utilização cada vez menor de balcões de retalho. Por fim, é importante lembrar também que o surgimento de novos agentes financeiros (como financiamento colaborativo, plataformas bitcoin, etc.) supõe a existência de mais concorrentes no mercado. Todas essas mudanças obrigaram os bancos a repensar seu modelo de negócios, ou pelo menos a forma como abordam o cliente, e continuarão a fazê-lo no futuro para se adaptar a um mercado em constante mudança.

Por último, o desenvolvimento das tecnologias de comunicação permitiu um crescimento exponencial da banca online (que, como já comentamos, tem sido acompanhada por uma mudança de hábitos dos clientes, o que dá preferência a este serviço em detrimento do atendimento presencial nos escritórios). No entanto, a transformação da banca não parou por aí, mas espalhou-se pela tecnologia móvel: hoje em dia existem cada vez mais entidades que permitem aos utilizadores aceder às suas contas e realizar todo o tipo de operações através de aplicações móveis ou mesmo tablets. Além disso, o crescimento das compras online em todo o mundo também tem levado ao surgimento de plataformas de pagamento seguras oferecidas pelos bancos, já uma das características que identificam as entidades mais relevantes.

Todas essas mudanças, temporárias e estruturais, transformaram profundamente o setor desde os primeiros anos do nosso século. A crise de 2007, por outro lado, levou muitas das entidades menores à falência, levando a um setor mais concentrado, com menos bancos, mas maior do que nunca. Neste contexto, o fortalecimento das entidades pressagia uma competição mais intensa por quotas de mercado, sendo que grande parte do seu sucesso será necessariamente devido à sua capacidade não só de inovar, mas de se adaptar às mudanças da própria sociedade.