Uma recuperação econômica arriscada e incompleta

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Uma recuperação econômica arriscada e incompleta
Uma recuperação econômica arriscada e incompleta
Anonim

Os planos de estímulo aplicados não são acessíveis a todas as economias que compõem o planeta. Da mesma forma, o endividamento passa a questionar se eles são acessíveis, mesmo para certas economias desenvolvidas.

Diante de uma crise imprevista como a pandemia que hoje ameaça nossas economias, muitos são os países que começaram a aplicar políticas para, de certa forma, conter as quedas provocadas por essa crise. Devido a uma paralisação forçada da atividade econômica devido à incapacidade de conter contágios, a incapacidade de abrir negócios e continuar operando obrigou os países a ativar mecanismos para conter o declínio esperado em suas economias; mecanismos muito caros, para os quais foi necessária uma mobilização histórica de recursos.

No caso da União Européia, por exemplo, a mobilização de recursos realizada pelo bloco comunitário não é igual às mobilizações anteriores. Em que até países como a Grécia tiveram que intervir, com salvamentos e supervisão da Troika. E é que, quando se atende aos precedentes que tem a pandemia, da mesma forma se percebe que, como mostram os principais indicadores macroeconômicos, estamos diante de uma crise que não tem precedentes em nossa história recente; visto que nem a própria natureza desta crise é semelhante à das crises anteriores.

Neste sentido, estamos a falar de uma mobilização de recursos aprovada pelo velho continente que chegará a 750.000 milhões de euros. Tudo isto tendo em conta que estamos a falar do fundo de recuperação, bem como de todos os fundos e rubricas orçamentais que o quadro financeiro plurianual já tinha e que não estariam incluídos nesse montante. Pois bem, neste cenário, a necessidade de estimular a economia fez com que os países se preparassem para enfrentar uma das maiores crises da história; pois não estamos falando apenas da Europa, mas também de outros países que, como os Estados Unidos, já estão preparando munições monetárias para combater a queda.

Assim, o caso dos Estados Unidos é semelhante ao europeu. A expectativa de mobilização de recursos inclui um plano de estímulo dotado de até 2,2 trilhões de dólares para amortecer as consequências da crise do coronavírus, o maior plano de resgate econômico da história do país, mais que o dobro do aprovado na recessão de 2008. E o fato é que mesmo o Reino Unido, enfrentando sozinho a pandemia e agora longe do projeto europeu, decidiu implementar planos de estímulo no valor de 33 bilhões de libras. Tudo isso, como dissemos, para reverter uma situação econômica que não apresenta nada favorável.

Neste cenário, com base na última atualização do relatório WEO, publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), as perspectivas são um pouco mais otimistas, embora continuem a prever uma contração bastante acentuada. O relatório prevê uma queda no produto interno bruto (PIB) mundial de 4,4%, cinco décimos a menos do que em junho. No entanto, é preciso ter em mente que se trata de previsões que continuam a sofrer modificações, ao passo que, levando em consideração as afirmações do próprio corpo, muitos riscos se colocam no horizonte que nos impedem de cair na complacência e no conformismo.

Ao alcance de todos?

Diante do significado do vírus, os países decidiram não ficar para trás e, como diria Keynes, aplicar políticas anticíclicas de combate à pandemia é uma tarefa obrigatória para todos os países, sem distinção. No entanto, essas medidas, e respondendo ao proprietário, não estão ao alcance de todos. Nesse sentido, os países latino-americanos, ou outra série de economias emergentes do mundo, mostraram-se incapazes de empreender uma mobilização, na melhor das hipóteses, semelhante àquela empreendida por outros países como os mencionados acima. A sua falta de recursos, bem como a impossibilidade de continuar a assumir dívidas, impede-os de promover os planos de estímulo aplicados em outras economias menos vulneráveis ​​e com maior capacidade.

E, tomando como exemplo a Espanha e o Equador, devemos levar em consideração alguns aspectos. Neste caso, embora se diga que o Equador é um país com menos dívida do que a economia espanhola no que diz respeito ao seu PIB, a vulnerabilidade que o Equador apresenta, com uma dívida de 60% no que diz respeito ao seu PIB, é claramente superior. de que a Espanha apresentaria; embora sua dívida fosse, como hoje, acima de 100% do PIB.

Em outras palavras, os níveis de endividamento não são o mais preocupante, mas sim a qualidade de uma economia e a capacidade de pagá-la. Como podemos ver, a economia espanhola tem níveis de dívida que já ultrapassam 100 do seu PIB. No entanto, apesar de suportar estes níveis de endividamento, a Espanha possui uma classificação de crédito A-, o que a leva a ter de emitir dívida a custos de financiamento mais baixos. Por outro lado, tomando o caso do Equador como exemplo, seu rating de crédito é B- (dívida de pior qualidade), portanto deve enfrentar um custo maior.

O prêmio de risco na Espanha, ou seja, o indicador que avalia o risco da dívida de um emissor, em relação a um país de referência, é de 70 pontos base em relação à dívida alemã. Isso levou a Espanha a oferecer um retorno de 0,40% em relação ao seu título de 10 anos sobre suas obrigações de dívida de longo prazo. No entanto, no caso do Equador, o título obriga o país a pagar cerca de 10% de juros sobre sua dívida, uns relativos 13%; o que, apesar dos níveis mais baixos de endividamento que o país carrega, sua fragilidade institucional e econômica o leva a ter que enfrentar custos extras na hora de tomar empréstimos.

No entanto, o Equador é apenas um exemplo. Desde então, essa situação ocorre, embora com variações, em outros países mais desenvolvidos, como o México. Bem, de acordo com seus indicadores, os níveis de dívida nos países latino-americanos são relativamente baixos; no entanto, a qualidade da dívida de que estávamos falando é menor.

Assim, o menor custo da dívida, devido à sua maior qualidade, confere maior robustez a alguns países, que, apesar de possuírem elevado nível de endividamento, apresentam baixo risco, além de taxas de juros bastante elevadas. na América Latina. É o caso dos Estados Unidos, sendo o país um exemplo claro disso; já que apresentam um título de 10 anos em torno de 1,90%, enquanto os níveis de endividamento ultrapassam 100% de seu PIB.

Em suma, podemos tirar uma conclusão muito clara em quase todos os países analisados. E é que, enquanto o Equador, com níveis de endividamento próximos a 50%, teve que concordar com um resgate com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para sanear suas contas públicas, outros países com PIB notavelmente superior, além de níveis de dívidas que se aproximavam ou ultrapassavam 100% do PIB, têm contas mais saudáveis, bem como uma classificação mais elevada em termos de classificação; portanto, sua capacidade de continuar a pedir empréstimos lhes permite aplicar planos tão dimensionados quanto os mencionados.

Maior capacidade, mas com limites

Embora estejamos nos referindo ao fato de que há alguns países que, pelas características de sua dívida, podem fazer injeções de valor superior ao de outros, a pandemia expôs as vulnerabilidades de cada uma das economias que compõem nosso planeta. Algumas vulnerabilidades que se acentuaram à medida que o volume da dívida pública cresceu, que já atinge o seu máximo histórico. Pois bem, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Mundial, estamos falando de um nível de endividamento que já começa a despertar a preocupação das principais organizações do planeta.

Como dissemos, os países promoveram planos de estímulo para combater a pandemia. Nesse sentido, os planos empreendidos contemplam, em todo o planeta, uma mobilização de recursos equivalentes a 12 bilhões de euros. No entanto, embora seja óbvio, a injeção efetuada acrescenta-se a um cenário em que as receitas dos Estados despencam, enquanto as economias estagnam num contexto de contrações económicas generalizadas em todos os continentes.

Assim, a situação fez com que, pela primeira vez na história, a dívida soberana global se igualasse ao tamanho da economia mundial. Pois bem, como dissemos, devido ao forte aumento dos gastos públicos internacionais com o combate ao vírus, somado à forte queda da arrecadação tributária em decorrência da paralisação da atividade imposta para conter a propagação do vírus, a dívida pública mundial registrou um máximo histórico que já atinge 100% do PIB mundial.

Bem, para concluir, estamos diante de uma resposta necessária que tem amortecido a queda esperada. No entanto, como dissemos, estamos a falar de uma dívida que não é uma opção para todos os países, o que torna a recuperação inclusiva e generalizada difícil para todas as economias. Assim, ademais, é de notar que o volume da dívida no planeta já começa a representar um risco de dimensões desconhecidas, o que obrigará os países a apertarem o cinto no futuro, dada a necessidade de recuperar a estabilidade orçamental, hoje extinta .